Com troca de ministro, governo quer reduzir pressão por CPI da covid-19

Articuladores de Bolsonaro tentam convencer senadores de que a substituição do ministro Pazuello pelo médico Marcelo Queiroga vai sacramentar uma mudança de rumo do Executivo

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Por Daniel Weterman
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro quer usar a troca do ministro da Saúde como trunfo para barrar a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado que pode investigar a conduta do governo na crise de covid-19. Articuladores políticos de Bolsonaro tentam convencer senadores de que a substituição do ministro Eduardo Pazuello pelo médico Marcelo Queiroga vai sacramentar uma mudança de rumo do Executivo para aumentar a aposta pela vacina contra o novo coronavírus.

A estratégia foi exposta pelo líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). O parlamentar foi ao Twitter defender o novo ministro e pregar uma nova fase de diálogo entre a pasta e o Congresso. "A troca no Ministério da Saúde atende uma das preocupações que motivaram o pedido de CPI no Senado. O momento é tão crítico que exige união e diálogo para adotar todas as medidas necessárias para salvar vidas e enfrentar o colapso dos sistemas de saúde", escreveu Bezerra.

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Antes de uma decisão sobre a CPI, senadores querem ouvir o futuro ministro sobre qual será a posição dele à frente da pasta. Há pressão por respostas sobre a vacinação, fornecimento de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e oxigênio a Estados e municípios. O Senado articula uma audiência pública com Marcelo Queiroga e deve aprovar um requerimento após sua posse. A ideia é convidar o novo ministro assim  na semana seguinte que ele for oficialmente nomeado por Bolsonaro para o cargo.

A decisão de incentivar a ida de ministros em audiências públicas para tentar apaziguar os ânimos e até segurar CPIs foi usada pelo governo com Pazuello em fevereiro. A sessão com o general, porém, foi classificada por senadores como desastrosa. Além disso, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), deu aval à criação de uma comissão de acompanhamento da covid-19 enquanto o Palácio do Planalto tentava retirar assinaturas do requerimento de CPI, o que não ocorreu.

Plenário do Senado Foto: Gabriela Biló/Estadão

O novo ministro levanta desconfianças em partidos do Centrão. Na avaliação de líderes desse grupo, Queiroga precisará agir e mostrar resultados logo. "Não teremos paciência com ele (Queiroga). É acertar ou acertar", afirmou mais cedo ao Estadão o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), atual vice-presidente da Câmara. Ramos é aliado do presidente da Casa, Arthur Lira (Progressistas-AL).

Como mostrou a reportagem, políticos do Centrão lavaram as mãos sobre a indicação do novo ministro. Na prática, deixaram um tom de ameaça no ar, diante da decisão de Bolsonaro de escolher um nome da confiança de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), demonstrando isolamento.

Senadores apresentaram um pedido de CPI no Senado para investigar o governo na pandemia de covid-19. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, no início deste mês, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) defendeu punições contra Bolsonaro. "É preciso parar esse cara", disse o tucano.

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O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) Foto: Dida Sampaio/Estadão

A CPI depende de decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Ele afasta a possibilidade de autorizar uma investigação, neste momento, e argumenta que o Congresso precisa se concentrar em esforços para ampliar a vacinação, o auxílio emergencial e a abertura de leitos de UTI. Além disso, Pacheco cita o funcionamento remoto do Senado como justificativa sobre as dificuldades para abrir uma comissão dessa natureza.

Aliados de Bolsonaro admitem as pressões pela comissão de investigação no Senado, mas tentam barrar a instalação na expectativa de que o novo ministro acelere o processo de vacinação no País. "Todo mundo está aguardando qual será a linha da estratégia do novo ministro. Agora é tudo ‘Ministério da Vacina’, Tem que arrumar vacina", afirmou o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO) ao Estadão/Broadcast Político.

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