Com Temer e Sarney, PMDB comandará Casas do Legislativo

Deputado e senador foram eleitos para as presidências das Casas com, respectivamente, 304 e 49 votos

Por Andreia Sadi e Giuliana Vallone
Atualização:

Confirmando o favoritismo, o deputado Michel Temer (PMDB-SP) foi eleito, com 304 votos, o novo presidente da Câmara dos Deputados nesta segunda-feira, 2. Mais cedo, José Sarney  (PMDB-AP) foi eleito para a presidência do Senado. Com isso, o PMDB comandará as duas Casas no biênio 2009-2010. Para o cientista político da UnB, David Fleischer, o PMDB está mais fortalecido do que nunca. "A tradição do PMDB de dominar as duas Casas é muito antiga, muito grande. Antes desta votação de hoje (do Sarney), tinha havido 24 eleições nas Casas, 12 em cada. Destas, o PMDB levou 17- absoluta grande maioria. Porque quase sempre é o maior partido nas duas Casas", disse. Para Fleischer, o partido continua sendo a grande noiva de 2010."O partido é bastante organizado nos 27 Estados, mas não tem coesão interna para decidir candidato presidencial viável. Porém, continua sendo o partido mais cobiçado para 2010. É um partido que, seja quem for eleito presidente, em 2011 vai ter de governar com PMDB", disse. O cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais, Carlos Ranulfo, discorda parcialmente da opinião de Fleischer. Na avaliação dele, o PMDB continua com a mesma força para 2010 após as eleições no Congresso. "O PMDB é um apoio fortíssimo para 2010, mas não porque tem a presidência do Congresso, e sim porque tem muitos governadores, tem muita bancada e muito tempo de televisão", disse. Ele afirmou que a eleição de dois representantes do partido para as presidências da Câmara e do Senado mostra a competência do PMDB "naquilo que é sua especialidade, ou seja ocupar cargos no Legislativo e no Executivo brasileiro. O PMDB vive em função disso." Veja também: Perfil: Conheça Michel Temer "Vitória de Sarney levou votos do PSDB e dá poder a Renan ", diz analista Eleição no Senado é a despedida de Sarney, diz professor da UFMGA sucessão dos presidentes do Senado   Perfil: conheça o senador José Sarney Galeria de fotos do novo presidente do Senado Galeria de fotos do novo presidente da Câmara Blog: acompanhe os principais momentos das eleições na Câmara e no Senado  A polêmica desta eleição ficou por conta do rompimento do acordo entre PT e PMDB, firmado em 2007. À época, ficou acertado que o PT indicaria o presidente do Senado em 2009 e o PMDB apoiaria; Na Câmara, o PMDB indicaria o presidente neste ano e o PT apoiaria. Na Casa dos deputados, o pacto foi acatado- o partido do presidente Lula oficializou apoio a Temer e não lançou candidato próprio. Mas o PMDB do Senado, amparado pelo fato de ser a maior bancada, resolveu descumprir o acordo e lançou José Sarney. Temer derrotou os concorrentes Ciro Nogueira (PP-PI) e Aldo Rebelo (PcdoB-AL), que tiveram, respectivamente, 129 e 76 votos. Sarney venceu o candidato do PT, Tião Viana, por 49 votos a 32. Estiveram presente na sessão 509 dos 513 deputados- eram necessários são necessários 257 votos, o que equivale à metade mais um dos parlamentares. No Senado, estiveram presentes os 81 senadores. Disputa Temer contou com o apoio de 14 partidos: PMDB, PSDB, PT, DEM, PR, PDT, PTB, PV, PPS, PSC, PHS, PTdoB, PTC e PRB. Antes de ser eleito, ele afirmou que, apesar do longo período de vida pública, foi tomado pela emoção durante a sessão. O deputado ressaltou ainda que quer levar as questões importantes do País para serem debatidas na Câmara dos Deputados. "Eu, que fui duas vezes presidente da Casa, quero fazer com que essa Casa não seja apenas produtora de leis, mas que cumpra sua função fiscalizadora, participe efetivamente do debate dos grandes temas nacionais. (...) Há uma crise mundial batendo às portas do País? Vamos debatê-la aqui. Vamos formular ideias para o País. Não haverá tema polêmico que não virá ao Plenário." Já Sarney, antes da votação prometeu que iria cortar 10% do Orçamento do Senado Federal por medida de economia, caso fosse eleito. "Vou lutar pela reforma política, por todos os meios e resolver de uma vez por todas esse problemas das Medidas Provisórias, que é uma vergonha", disse. "Assumo a Presidência do Senado pela terceira vez, com o senso da maior responsabilidade e o desafio que constitui essa eleição para a minha vida. Certamente, nenhum dos presentes duvidam do meu bem estar social, pessoal, estaria fora das atribuições que vou enfrentar. Mas a paixão da vida pública é maior que a paixão da própria vida. E é justamente no exercício desta paixão que aqui estou", afirmou Sarney, no seu primeiro discurso depois de ser eleito. Poder A eleição dos novos presidentes do Senado e da Câmara garantirá aos escolhidos não só o imenso poder político dos dirigentes do Legislativo, mas também um Orçamento de R$ 6,27 bilhões - próximo ao de um Estado do porte do Rio Grande do Norte -, daí a grande disputa pelo cargo, o jogo de rasteiras de última hora e traições que deixam marcas para sempre. Juntos, Senado e Câmara têm mais de 20 mil funcionários, hospitais, gráfica, TVs, rádios e centros de informática. Os eleitos terão ainda o livre arbítrio de mexer ou não na gigante estrutura administrativa das duas Casas, que, se bem montada, lhes será fiel por muito tempo, até mesmo depois de deixarem o poder. O Senado tem 44 diretorias, pouco mais de uma para cada dois senadores. Cerca de 400 funcionários garantiram, ao longo dos anos, salários iguais aos de diretor - R$ 16.252 -, apenas R$ 260,09 a menos que o dos senadores, de R$ 16.512,09. Ou seja: 444 funcionários da Casa têm salário praticamente igual ao dos 81 senadores. O Senado tem 6.570 servidores ativos, dos quais 3.535 são concursados e 3.035 comissionados, aqueles que podem ser nomeados livremente, por critérios políticos, não técnicos. O salário médio mensal do servidor da ativa é de R$ 12.879. A Câmara, ainda maior, tem 27 diretorias, cujos titulares recebem salário de cerca de R$ 15 mil, mais as gratificações, que para esses cargos variam de R$ 1.490 a R$ 1.908. Ali trabalham cerca de 14.750 funcionários, mas apenas 3.600 são concursados. Os outros 11.150 ocupam cargos de confiança - 10 mil secretários parlamentares, que atuam nos gabinetes, e 1.150 que exercem cargos de natureza especial, os CNEs. A nomeação dos mais de 11 mil servidores se dá quase sempre por critério político. (João Domingos e Rosa Costa, de O Estado de S.Paulo)

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