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Com rostos cobertos, 600 sem-terra tomam usina em Barra Bonita

Por Emilio Sant'Anna
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Elas saíram de madrugada de casa para pegar a estrada com as outras companheiras, rumo a Barra Bonita, a cerca de 300 quilômetros de São Paulo. O alvo é a Usina da Barra, do grupo Cosan, com 9 mil funcionários em época de safra e capacidade para processar 30 mil toneladas de cana por dia. Galeria de fotos: Confira as manifestações pelo País Pouco antes das 6 horas já são mais de 600 mulheres ligadas ao Movimento dos Sem-Terra (MST). Com os rostos cobertos por lenços floridos e chapeus, elas são o braço da Jornada das Mulheres da Via Campesina contra o Agronégocio e Soberania Alimentar no Estado de São Paulo. Enquanto metade impede a passagem dos caminhões da empresa, formando "linhas de contenção" nas três entradas, as outras partem para o corte da cana no espaço escolhido para montar os barracos. Entre gritos de guerra e a tensão pela movimentação do lado de fora da fazenda, um carro de som toca músicas de incentivo à ocupação. "O problema desta terra e de todas no Estado é que não cumprem sua função social", diz Kelli Maffort, integrante da coordenação nacional do MST e uma das líderes da ocupação. "A usina tem uma série de denúncias trabalhistas e ambientalmente é um desastre." Kelli é assentada, assim como muitas das mulheres da coordenação do movimento. "Eu já recebi meu lote, mas muitas mulheres aqui ainda não", diz Ana Maria de Lourdes, 54 anos, sem parar de cortar a cana. DESAFIO O dia só começara e, quando a polícia aparece numa das entradas, o corre-corre é geral dentro da fazenda. Dois carros param na frente da cancela improvisada com bambu e feixes de cana e os policiais assistem ao grupo levantar as foices e facões em tom de desafio. Finalmente quando decidem ir embora, as sem-terra descem a estrada de terra rumo à sede da Cosan, em meio a gritos de guerra e comemoração. O fato de serem mulheres, dizem, não reduz o risco de enfrentamento. "O Estado sempre vai usar suas armas para manter a situação como está, seja o Judiciário ou a polícia", afirma Kelli. A usina resolve cortar a água dos antigos casarões. Com a temperatura passandos dos 30 graus no canavial, o jeito é se esconder do sol na cozinha improvisada para o almoço ou na sacada da antiga sede. Ali, Ivanilda de Oliveira, de 41 anos, descansa e divide uma laranja com três de seus sete filhos e uma neta de 4 anos. "Sempre trabalhei no campo, mas nunca tive nada." A Cosan, em nota, afirma que todos os funcionários da empresa são contratados pelo regime CLT. Segunda a empresa, "as autoridades competentes foram acionadas" para que ocorra a reintegração de posse.

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