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Com propaganda do PAC, Dilma sepulta crise do dossiê no Senado

Estratégia dos oposicionistas fracassa e ministra nem precisa da proteção dos aliados ao depor à comissão

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Por Christiane Samarco e Marcelo de Moraes
Atualização:

A oposição não conseguiu provar que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é só uma peça de propaganda e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, desinflou a crise do dossiê das contas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Durante seu depoimento na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, ontem, Dilma nem precisou da blindagem que a bancada governista montou para protegê-la dos possíveis ataques da oposição. Ouça trechos do depoimento da ministra a comissão no Senado A oposição também não conseguiu explorar as versões contraditórias do Palácio do Planalto sobre o dossiê e ouviu sem réplicas contundentes as explicações sobre o PAC. Por conta disso, o desempenho de Dilma foi comemorado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma pergunta do senador Agripino Maia (DEM-RN), logo no início da sessão, facilitou tudo para a ministra (leia mais nesta página). Agripino disse que Dilma mentiu, sob tortura, durante o regime militar, e poderia, por isso, estar mentindo agora sobre o dossiê. O senador provocou reações até fora do Congresso. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) acusou Agripino de fazer uma "insinuação infeliz". Em nota oficial, o presidente da entidade, César Britto, disse: "Na ditadura, a mentira era um direito de resistência inerente a todo cidadão, que não pode ser obrigado a se auto-acusar, ainda mais quando ameaçado de tortura ou de morte". No Planalto, com duas horas de depoimento, os assessores mais próximos do presidente já avaliavam que Dilma ganhara "o primeiro round". "Ela saiu dessa sessão maior do que entrou", afirmou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). No fim, foi ainda mais enfático : "A oposição sai daqui com uma dor de cabeça, um candidato governista a mais para 2010". "Batendo nela, a oposição fez a ministra passar de 2% para 8% nas pesquisas para presidente. Depois dessa sessão, deve ter pulado para uns 12%. Já deve ter passado o Aécio Neves", ironizou o senador Renato Casagrande (PSB-ES), vice-líder do bloco de apoio ao governo. Dilma vinha resistindo a comparecer ao Congresso para explicar a montagem do dossiê por conta do desgaste que o assunto produzia na sua imagem pública. Principal pré-candidata do governo à sucessão de Lula, Dilma temia que a exposição às críticas da oposição tirasse seu nome da corrida presidencial. O bom desempenho na audiência de ontem, entretanto, fortaleceu a ministra, como avaliavam abertamente seus aliados. "Ela acertou em tudo, até na cor", comentou a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), ao chamar a atenção para o terninho verde que a ministra havia escolhido. PONTUAL Dilma chegou pontualmente às 10 horas ao gabinete do presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), e teve de esperar pelo anfitrião, que chegou logo em seguida e fez questão de acompanhá-la até a sala da comissão. Ao longo da caminhada de cerca de 80 metros, a ministra ficou cercada por seguranças, líderes governistas e de partidos aliados e petistas de vários Estados. Mas, para espanto geral, sem atropelos. Sorridente, comentou que a cena da qual fazia parte mais parecia uma "cerimônia de casamento". Logo atrás, o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), apostava que a ministra daria "um show" em seu depoimento. Dentro do plenário da comissão, Dilma também teve platéia vip. Garibaldi fez questão de ficar sentado a seu lado durante toda a primeira parte da sessão. Mais tarde, para não interromper o depoimento, adiou a realização da ordem do dia do Senado para a manhã seguinte. Acompanhando a fala da ministra, aliados como Renan Calheiros (PMDB-AL) e Roseana Sarney (PMDB-MA). O senador Wellington Salgado (PMDB-MG) foi além na demonstração de seu apreço pela ministra. Quis homenageá-la, como "mãe do PAC", entregando um presente pela senadora Ideli, dizendo que era pelo Dia das Mães, comemorado no próximo domingo. A oposição implicou com o mimo, dizendo que o código de ética dos servidores proíbe o recebimento de presentes de valor superior a R$ 100. Wellington pediu, então, a caixa de volta e não entregou o presente, um pingente de ouro com o formato do Brasil. Naquela altura, porém, Dilma já nem precisava de agrados para deixar o Senado satisfeita.

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