Com Patriota dividido, Flávio diz que Bolsonaro precisa ter ‘segurança jurídica’ para filiação

Filho do presidente participa de convenção do partido e diz que pai ‘não vai cortar a cabeça de ninguém’ na sigla; ala dissidente afirma que vai recorrer novamente à Justiça contra o que chama de ‘golpe’

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BRASÍLIA – Em nova convenção nacional do Patriota, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) externou a preocupação do presidente Jair Bolsonaro em relação à disputa interna no partido, disse que seu pai “não vai cortar a cabeça de ninguém”, mas precisa de “segurança jurídica” para se filiar. Bolsonaro negocia a entrada no Patriota para concorrer à reeleição, em 2022. As mudanças promovidas no estatuto do partido para permitir o controle de diretórios da legenda por seus aliados bolsonaristas, no entanto, ainda são alvo de contestação na Justiça.

Recém-filiado ao Patriota, Flávio participou pessoalmente da convenção – que foi realizada em Barrinha (SP), no interior de São Paulo – e fez um apelo pela pacificação do partido. Estava acompanhado de Admar Gonzaga, advogado eleitoral de Bolsonaro e ex-ministro do Tribunal Superior (TSE). Sem citar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que aparece nas pesquisas como principal adversário de Bolsonaro –, o senador disse que se “o outro lado” voltar, será o fim do País.

Flávio Bolsonaro mostra sua ficha de filiação ao Patriota; senador entrou para o partido mês passado Foto: Reprodução/Twitter

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“Tem muito mais coisa em jogo do que essa questão do partido”, afirmou Flávio. “O presidente Bolsonaro está aguardando o desdobramento do que vai acontecer no Patriota. Ele não quer ter preocupação partidária, já tem um país para tocar e quer cuidar da questão eleitoral. Quer ter autonomia na hora de fechar palanques nos Estados, com senadores, deputados. Não vem para cortar cabeça de ninguém, não”, insistiu o filho “01” de Bolsonaro.

O presidente do Patriota, Adilson Barroso, pretende fazer uma espécie de intervenção para mudar o comando de diretórios estaduais, com o objetivo de abrigar o grupo político de Bolsonaro. “É uma benção termos o presidente no partido”, disse ele ao Estadão.

Durante a convenção, Flávio admitiu que aliados bolsonaristas querem assumir postos na estrutura partidária, mas tentou acalmar os novos correligionários ao sustentar que esse processo já está em andamento. “O presidente quer vir com esse cenário, esse contexto de tranquilidade, de segurança jurídica obviamente, de ter pessoas que possam tocar o partido nos Estados que sejam de confiança. Isso já está acontecendo, então nem haveria necessidade de mudança”, destacou.

Para se filiar, Bolsonaro exige o controle dos diretórios e do caixa do partido. Foi por isso que rompeu com o PSL, de quem também cobrava um “alinhamento ideológico” com pautas do governo e a expulsão de deputados que o atacam, como Júnior Bozzella (SP), Julian Lemos (PB), Joice Hasselmann (SP) e Delegado Waldir (GO).O presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), não aceitou essas condições e as negociações emperraram. Mesmo assim, Joice disse nesta segunda-feira, 14, ao Estadão que está de saída do PSL porque, na sua avaliação, o partido “se prostituiu” e virou um balcão de negócios.

Ala dissidente do Patriota vê ‘golpe’

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Nesta segunda convenção do Patriota, realizada duas semanas após a primeira – contestada judicialmente por uma ala do partido, composta pelo vice-presidente da sigla, Ovasco Resende, e pelo secretário-geral, Jorcelino Braga –, Adilson Barroso fez novamente trocas na cúpula do partido, com alguns desligamentos compulsórios. “No desespero, o presidente nacional do Patriota Adilson Barroso promoveu um verdadeiro festival de fraudes na convenção”, disse Braga.

“De novo ele promoveu uma votação sem ter quórum qualificado, que é determinação expressa no estatuto do partido, pois a maioria dos votos que conseguiu foi de forma irregular. Ele não tem consenso dos convencionais com direito a voto, eleitos em 2018, com mandato vigente até novembro de 2022, e tenta dar um golpe”.

O secretário-geral do Patriota afirmou que o grupo entrará, mais uma vez, na Justiça. “Eu disse ao Adilson que, desse jeito, ele vai destruir o partido”, contou Braga. Barroso negou as irregularidades apontadas.

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“Se o Patriota estivesse em nome de qualquer outro, ele (Bolsonaro) não viria por nada. Ele confia em mim”, disse o presidente do partido. Na avaliação de Barroso, é melhor dividir o poder com aliados de Bolsonaro do que deixar a legenda minguar. “É melhor ganhar nessa (loteria da Mega) Sena dez pessoas, uma quantidade de final de ano (maior prêmio do sorteio), do que o primeiro dia sozinho. Vamos dividir isso aqui”.

Flávio fez declarações na mesma linha. “Ninguém está vindo para tomar o lugar de ninguém. Olhem o que aconteceu com o PSL, que passou de um deputado para 52 em uma eleição. Por que a gente não pode tentar repetir isso com o Patriota?”, perguntou o senador. Até agora, porém, não há acordo no partido com o qual Bolsonaro negocia a filiação.

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