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''Com Obama, haverá mudança de estilo''

José Miguel Insulza: secretário-geral da Organização dos Estados Americanos; ele ressalta fato de novo presidente dos EUA dizer que quer fazer política ?com? a América Latina, e não mais ?para? a região

Por Denise Chrispim Marin e BRASÍLIA
Atualização:

Os EUA deverão trazer novos gestos de distensão nas suas relações com Cuba para a Cúpula das Américas. O evento reunirá 34 países do Hemisfério entre os dias 17 e 19 abril em Trinidad e Tobago e, como nas versões anteriores, não contará com a presença cubana. A ocasião abrirá também a primeira oportunidade para o novo presidente americano, Barack Obama, demonstrar como fará sua política "com" a América Latina, e não mais "para" a região. Essas duas expectativas sobre a transição do discurso eleitoral de Obama sobre a América Latina para a ação prática de seu governo são alentadas pelo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o chileno José Miguel Insulza. "Haverá mudança de estilo", afirmou Insulza, em entrevista ao Estado. A Cúpula das Américas se concentrou, até 2005, na Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Com essa negociação sacrificada, qual o rumo desse mecanismo? A Cúpula de Trinidad e Tobago será dominada por dois temas. Primeiro, pela busca de um novo diálogo de América Latina e Caribe com os EUA. Segundo, pela crise econômica. Em especial, sobre como fazer com que seus efeitos na região sejam os menos prejudiciais. Espero que seja examinada a necessidade de os organismos financeiros internacionais restaurarem o fluxo de capital nos países da região que se veem afetados, apesar de suas boas políticas macroeconômicas. A crise econômica expõe a América Latina a riscos de turbulência política e social? O risco sempre existe. As democracias latino-americanas estão mais preparadas para enfrentar a crise. Como haverá eleições em boa parte dos países do hemisfério neste ano, a crise pode afetar seus resultados. A vantagem é que as querelas políticas serão canalizadas pela via eleitoral. Sou otimista. Vamos ter um ano politicamente ativo, mas não necessariamente conflituoso e inadministrável. Mas é preciso que, mesmo diante da redução da taxa de crescimento econômico, os países não diminuam suas políticas de luta contra a pobreza. Em pouco mais de 50 dias de governo, Obama não deu um sinal claro sobre sua política para a América Latina. O que se espera de Obama nessa reunião de cúpula? A agenda EUA-América Latina envolve comércio/protecionismo, energia, aquecimento global, criminalidade, migrações. Não se pode inventar outros temas. Nos últimos anos, as políticas dos EUA e da América Latina não estiveram muito alinhadas. Não nos entendemos suficientemente. A tendência unilateral da administração Bush e sua opção por outras regiões afetaram essa relação. Por isso, tem muito significado para nós o fato de Obama ter dito que quer fazer política com a América Latina, e não mais para a América Latina. Não se espera que Obama nos diga, em Trinidad, qual é sua grande política para a América Latina. Espera-se um diálogo entre os presidentes sobre os problemas do hemisfério, mesmo sem perspectiva de soluções nesse encontro. Haverá mudança de estilo. O sr. espera um gesto de Obama em relação a Cuba na cúpula? A flexibilização das regras sobre viagens e remessas a Cuba, que não é pouca coisa, já foi determinada. Mas pode haver anúncio da retomada das vendas de produtos agrícolas americanos a Cuba e do fechamento da prisão de Guantánamo. O fim do bloqueio econômico e a revogação da resolução que suspendeu Cuba da OEA podem ser defendidos por líderes presentes. Mas não creio que serão resolvidos neste momento. A OEA se prepara para tratar da reinserção de Cuba? Esse tema poderá ser tratado na Assembleia-Geral da OEA, que se reúne em junho em Honduras. A resolução não tem mais nenhum sentido. Temos de tirar esse obstáculo para conversar sobre como recuperar a participação de Cuba no sistema interamericano. Mas, revogar essa resolução não significa que Cuba poderá reassumir sua posição na OEA no dia seguinte.

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