PUBLICIDADE

Com mais chuvas, Nova Friburgo continua caótica; mortos na serra passam de 600

População vivia tensão em meio a temores de novos deslizamentos; saída da cidade está congestionada.

PUBLICIDADE

Por Rafael Spuldar
Atualização:

Partes do centro de Nova Friburgo ficaram devastadas Uma chuva torrencial de cerca de uma hora caiu neste sábado sobre o município de Nova Friburgo, na serra fluminense, causando ainda mais transtornos na cidade, uma das mais afetadas pelas enchentes e os deslizamentos ocorridos na região desde a madrugada da última quarta-feira. No início da tarde deste sábado, a saída da cidade era caótica, mesmo após a chuva dar uma trégua. Os carros levavam cerca de duas horas para percorrer um trecho de pouco mais de 5 km da rodovia RJ 116, entre o centro da cidade e a localidade do Mury, na saída do município. A rodovia, que é a principal rota entre Nova Friburgo e a capital do Estado, ficou temporariamente interrompida devido à queda de barreiras. Durante a tarde, o governador fluminense, Sérgio Cabral, pediu à população que não use a via. Por volta das 15h30, o trânsito na rodovia voltou a se mover, mas com muita lentidão. O temporal que assolou Nova Friburgo neste sábado teve seu ápice aproximadamente entre 13h e 14h. Na avenida Comandante Bittencourt, uma das principais do centro, um verdadeiro mar de lama tomou conta de uma das pistas. Apenas veículos grandes conseguiam trafegar no local, e o rio que corre ao longo da via ameaçou transbordar. Desesperados, os motoristas que se dirigiam para a via enlameada tentavam escapar da enxurrada. Muitos voltaram pela contramão. A poucos metros dali, na praça Presidente Getúlio Vargas, um volume de cerca de 60 cm de água misturada à lama tomou conta da rua. Para escapar da inundação, vários motoristas subiram com seus carros nos canteiros e jardins da praça - entre eles, veículos da Polícia Civil. Viagem Neste sábado, a reportagem da BBC Brasil se deslocou de Teresópolis para Nova Friburgo. O trajeto mais curto entre os dois municípios é feito pela RJ-130, rodovia conhecida justamente como Teresópolis-Friburgo (ou Terê-Fri), na qual a viagem de carro leva em torno de 45 minutos. Como a estrada permaneceu vários dias interditada, devido a um trecho de pista que cedeu, a opção foi descer a serra pela BR-116, entrar na RJ-122, cortando os municípios de Guapimirim e Cachoeiras de Macacu, para, por fim, pegar a RJ-116 em direção a Nova Friburgo. Por esse caminho, o tempo de viagem foi de 2 horas e meia. O percurso foi tranquilo até a entrada de Nova Friburgo, com pouco trânsito e asfalto de boa qualidade na maior parte do trajeto. Ao chegar ao município, o movimento de carros se tornou muito intenso, com a presença marcante de veículos do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil, além de ambulâncias, sempre com as sirenes ligadas. No caminho para o centro da cidade, todas as principais vias apresentavam grandes congestionamentos. O barulho de sirenes e de helicópteros era incessante. A lama estava presente em todas as ruas, principalmente acumulada sobre as calçadas. Tensão e desespero Morador diz que cidade ficou praticamente 'inviável' Diferentemente de Teresópolis, onde as áreas afetadas ficam afastadas da zona central do município, Nova Friburgo teve diversas áreas do centro devastadas pelas enxurradas e pelos deslizamentos de terra, o que dificulta o deslocamento de veículos e o funcionamento normal dos serviços na cidade. O clima entre boa parte dos friburguenses é de desespero e muita tensão. O nervosismo era visível nas pessoas que conversavam e limpavam suas casas nas ruas do centro. A tensão, em alguns momentos, acabou resultando em discussões entre motoristas, em meio ao caótico trânsito. "A cidade está assim, tensa mesmo. Está tudo parado, quase nada funciona. Friburgo está praticamente inviável de morar, é uma tragédia", disse o aposentado Nílson Santos, morador de um prédio na praça Presidente Getúlio Vargas. Praticamente todos os estabelecimentos comerciais estavam fechados no centro da cidade. Apenas algumas farmácias e padarias estavam funcionando, mas com poucos funcionários e com as portas parcialmente abertas. Os postos de gasolina tinham longas filas de carros - todos com avisos de que não aceitavam pagamento com cartão. Como o município está sem luz, autoridades fizeram um apelo por doações de velas. Na avenida Itália, no centro, um carro modelo Gol era içado de dentro de um córrego. Um morador disse que, dias antes, o mesmo veículo estava parado a alguns metros do local, em uma área de risco que acabou desabando. Alguns quarteirões adiante, em uma rua que corta a praça Presidente Getúlio Vargas, uma montanha de lama e entulho podia ser vista embaixo de uma encosta que desmoronou. Segundo um morador, a terra que desceu do morro soterrou uma concessionária de carros e mais dois estabelecimentos comerciais. Nenhum dos policiais no local sabia informar se havia vítimas sob o entulho. Junto à encosta, ficam duas residências que tiveram de ser abandonadas. Em uma delas, a parede estava totalmente demolida, o que permitia ver, dentro da residência, os móveis do que parecia ser uma sala de estar. Também localizada no centro, a Praça do Suspiro, onde fica o teleférico de Nova Friburgo, parecia um cenário de guerra, com montes de lama e destroços presentes em toda a sua área. Mortos O número de mortos nos deslizamentos da serra fluminense continuava a subir neste sábado. Segundo dados da Defesa Civil estadual divulgados às 19h, mais de 600 pessoas morreram na tragédia. A maioria das vítimas é de Nova Friburgo: 270 mortos. Em Teresópolis, são 262 mortos, além de 55 em Petrópolis e 18 em Sumidouro. A cidade de São José do Vale do Rio Preto não consta do balanço da Defesa Civil fluminense, mas há relato de que as cheias tenham provocado ao menos quatro mortes ali. Há também estimadas 6 mil pessoas desabrigadas na região da serra fluminense. Em visita a Nova Friburgo, Cabral disse que a reconstrução dos municípios afetados pelas chuvas deve custar "centenas de milhões de reais". BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.