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Collor diz que teria feito 'tudo' o que Lula já fez

'A diferença é apenas na questão de como fazer, no estilo', afirmou o ex-presidente e agora senador

Por Reuters
Atualização:

Adversário mordaz do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de 1989, o senador Fernando Collor de Mello afirma que faria "tudo" o que fez o petista se não tivesse sido afastado do cargo.

 

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Hoje no PTB - partido aliado ao governo -, o primeiro chefe de Estado a sofrer impeachment na América Latina recuperou parte do seu capital político perdido no conturbado ano de 1992, quando deixou o governo sob acusações de crime de responsabilidade.

 

"Tudo o que o presidente vem fazendo, e por isso eu apoio seu governo, eu faria. A diferença é apenas na questão de como fazer, no estilo", contou ele à Reuters em entrevista nesta quarta-feira, 17.

 

Presidente da Comissão de Infraestrutura, e um dos membros da polêmica CPI da Petrobras, Collor deixa uma porta aberta quando responde sobre as chances de um dia concorrer à presidência do Senado, instituição que o jogou no exílio político no passado e que agora é protagonista em diversos escândalos de corrupção.

 

"A presidência do Senado está distante para mim hoje como estava a Comissão de Infraestrutura meses atrás."

 

Eleito pelo Estado de Alagoas em 2006, ele foi absolvido de todos os crimes no Supremo Tribunal Federal.

 

No Senado, Collor dá a Lula o apoio que não teve de integrantes do PT no passado. No comando de uma das principais comissões permanentes da Casa, terá influência na prometida votação do marco regulatório do pré-sal, crucial para o Executivo.

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"Não tenho dúvida que o marco regulatório será aprovado no Congresso este ano", prevê.

 

O erro

 

Collor reconhece que dedicou apenas 10% de seu tempo à relação entre o governo e os partidos com representação no Congresso. Um erro, admite ele, que o diferenciou do atual presidente, "90%" do tempo dedicado à política.

 

Em 2005, a gestão Lula foi alvo de um dos maiores escândalos de corrupção da história recente do país. Apesar do desgaste gerado pelas denúncias do mensalão, não esteve nem perto de ser formalmente julgado. "O que me faltou à época foi essa base parlamentar (que Lula tem)", disse.

 

Enquanto Collor iniciou seu mandato com o apoio formal de pouco mais de 8% dos deputados, Lula construiu rapidamente uma confortável maioria e ainda exibe uma folgada base de sustentação na Câmara, Casa que autoriza eventuais julgamentos de impeachment.

 

Ao assumir a Presidência, Collor se deparou com um país que vivia o drama da hiperinflação, em níveis de 80% ao mês.

 

Número de azar

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Primeiro presidente eleito pelo voto direto após o regime militar, amparado na bandeira eleitoral do combate à corrupção,promoveu a abertura do mercado nacional às importações e iniciou o programa de desestatização.

 

Ele congelou preços e salários e, por meio da medida provisória 168, confiscou depósitos bancários e investimentos por um período de 18 meses, num ato que viria ao longo do tempo desidratar seu frágil apoio parlamentar.

 

Ele renunciou ao cargo na tentativa de evitar o processo de impeachment, mas não obteve sucesso.

 

Hoje, de volta ao jogo político, e com liberdade para voltar à concorrer à Presidência, ele diz ser "impossível" saber se recuperou a confiança do povo brasileiro.

 

"Para isso eu teria de concorrer (à Presidência) de novo", sorri.

 

Como ex-presidente, tem direito a dois assessores especiais e quatro seguranças do Exército, além da estrutura que o Senado oferece.

 

Dezessete anos depois de deixar o Palácio do Planalto, a poucos metros do Congresso, Collor despacha do outro lado da rua. Seu novo local de trabalho é um extenso e organizado gabinete localizado no 13o andar do Senado Federal.

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"Se fosse supersticioso, não estaria aqui", disse o senador, brincando, numa alusão ao número de azar e ao número do PT, um dos partidos mais aguerridos durante seu processo de impeachment.

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