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Classe média domina quadros petistas

Por Agencia Estado
Atualização:

Os dirigentes do PT são mais profissionais, têm melhor nível de vida e são mais estudados do que 22 anos atrás, quando o partido foi fundado no ABC paulista, em 10 de fevereiro de 1980. Pesquisa da Fundação Perseu Abramo, encomendada pela executiva do partido, ao qual é vinculada, revela que 65% dos delegados à convenção nacional, realizada em dezembro no Recife, têm curso superior e 67% ganham de 10 a 50 salários mínimos e, em alguns casos, até mais. Ou seja, têm renda familiar acima de R$ 1.800 mensais. Dos delegados que participaram da reunião, 74% são funcionários do próprio PT ou de setores ligados a ele, como governos estaduais, prefeituras, gabinetes parlamentares e sindicatos. "Faz tempo que a classe média está em alta no PT, especialmente entre os simpatizantes, numa escalada que começou logo depois da fundação de uma legenda que nasceu com esse nome, mas não se confirmou como partido dos trabalhadores", observou o sociólogo Leôncio Martins Rodrigues, professor titular de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ao analisar os resultados da pesquisa. Os dados referentes à profissionalização dos quadros políticos também não surpreendem, em sua opinião, porque refletem uma tendência que se observa nos partidos de esquerda. Estudioso das questões sindicais e partidárias, o professor da Unicamp diz que o grupo de militantes e filiados que formam o aparelho do Estado, em russo o aparatchik da máquina burocrática deverá crescer no PT. "Os parlamentares petistas têm de dividir o poder com esse grupo, porque se trata de uma marcha inevitável", adverte Rodrigues. Para ele, é normal também que, como partido de esquerda, o PT utilize essa máquina como fonte de recurso financeiro, impondo contribuições àqueles que têm mandato eletivo ou que são nomeados para cargos de confiança. "Os partidos de esquerda são obrigados a tirar um pouco de cada um, porque não recebem doações de banqueiros e de empresários, como os partidos eleitorais", observa o sociólogo. "A pesquisa da fundação mostra que o PT é um dos maiores partidos do ponto de vista financeiro", reforça o consultor político Gaudêncio Torquato, professor de Comunicação Política na área de pós-graduação da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da GT Marketing e Comunicação. Segundo ele, os dirigentes do partido e os governantes petistas tiram proveito da profissionalização de seus quadros - parlamentares, assessores e ocupantes de cargos de confiança - para arrecadar recursos. "Quando (a prefeita de São Paulo) Marta Suplicy aumenta os salários de funcionários em postos de chefia, está olhando para o futuro e para a campanha eleitoral do PT", afirma. Outros dados - Segundo a pesquisa da Fundação Perseu Abramo, 69% dos delegados à convenção nacional participam de algum tipo de movimento social. "Os delegados que têm curso superior também são militantes de movimentos populares", reforça o deputado federal Aloízio Mercadante (SP), secretário de Relações Internacionais do PT, para argumentar que o status social não afasta os dirigentes da ideologia e da luta do partido. A pesquisa ouviu 431 dos 537 participantes da convenção nacional - número de entrevistas correspondente a quase 80% do total. Comparados com levantamentos de encontros anteriores, os resultados mostram que aumentou a porcentagem dos delegados que são remunerados para fazer política (74% em 2001 contra 66% em 1999) e que a renda familiar daqueles que ganham mais de dez salários mínimos passou de 53%, em 1997, para 69% em 1999 e caiu para 67%, em 2001.

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