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Cinelândia recebeu principais manifestações políticas no Rio

Da participação do Brasil na Segunda Guerra aos cara pintadas, praça onde presidente americano, Barack Obama, vai discursar tem trajetória de mobilização popular

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Por Redação
Atualização:

RIO - Local escolhido para o discurso do presidente americano, Barack Obama, a Cinelândia foi palco de algumas das principais manifestações políticas e populares no Rio ao longo do século 20.

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Dos movimentos em favor da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos aliados às mobilizações dos caras pintadas que defendiam o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, passando pelas passeatas contra a ditadura militar e as manifestações em favor da redemocratização, a Praça Floriano e seu entorno - região popularmente chamada de Cinelândia - já receberam milhões de pessoas em protestos. Muitas dessas manifestações tinham retórica nacionalista e viés antiamericano.

"Aquele é um lugar de outros gritos. Abaixo os Yankees, abaixo o imperialismo americano", relembra a historiadora Marly Silva da Motta, do Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC/FGV). "O eixo Candelária-Avenida Rio Branco-Cinelândia tem uma representação política muito grande na história do Rio e do País. Guarda, principalmente, uma memória trabalhista e é uma referência de mobilização popular", explica Marly.

Para ela, a escolha da Cinelândia como local para o discurso de Obama representa uma "jogada política de alto risco". Mais do que o eventual embate ideológico contra forças políticas que não se mobilizam há muito tempo - a última grande manifestação popular bem sucedida no local foi a comemoração pela primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 -, o tamanho da região e a capacidade de mobilização é que podem ser determinantes no sucesso ou fracasso do evento.

"Para aquilo ficar cheio vai precisar de muita gente", afirmou a historiadora. "Não tenho certeza da capacidade de mobilização popular (para encher a Cinelândia). Um País que pouca gente entende inglês, por exemplo. Será preciso uma estratégia muito bem montada de comunicação para atrair as pessoas. É uma jogada política de alto risco que pode ser um sucesso retumbante, mas que também pode ser um fracasso e ele acaba saindo menor do que entrou".

Um dos grupos políticos que mais utilizaram a Cinelândia como palco de manifestações e área de mobilização foram os trabalhistas. A força do movimento se registrou, principalmente, na década de 50, após o suicídio do então presidente Getúlio Vargas, e nos anos 80, com a volta do exílio de Leonel Brizola e suas campanhas ao Governo do Estado do Rio e à Presidência da República. Com barracas de venda de produtos e palco improvisados para discursos e debates, a Brizolândia mobilizou milhares de militantes. Hoje, no local, resta apenas uma mesa e uma barraca com uma bandeira do PDT, partido presidido por Brizola até a sua morte, em 2004.

"Lamento profundamente que a Cinelândia tenha sido escolhida para exposição da retórica americana. Ainda mais num momento como esse, em que a farsa americana no Oriente Médio está tão exposta", argumentou o deputado estadual Paulo Ramos (PDT), um dos poucos políticos que ainda seguem a cartilha brizolista no Rio. "Já temos grupos se mobilizando para protestar. O mote vai ser `tira a mão do petróleo do Oriente Médio'", disse o pedetista.

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