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Cigarros não informam certo o teor de alcatrão

Por Agencia Estado
Atualização:

Análise das dez marcas de cigarro mais vendidas no Brasil, feita no Canadá, mostrou que alguns maços não informam corretamente o teor de alcatrão ? composto formado por dezesseis tipos de substância cancerígenas. A embalagem do Marlboro, por exemplo, declara que o cigarro tem 12 miligramas (mg) de alcatrão, mas os testes comprovaram que ele contém 15 mg. Já o Dallas diz ter 16 mg, dois a menos do que foi constatado. Resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina que, a partir de 31 de janeiro de 2002, o nível máximo de alcatrão deverá ser de 12 mg. Realizado pelo laboratório Labstat, referência mundial em análise de cigarros, o exame foi encomendado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), em convênio firmado com a Anvisa. Além do Marlboro e do Dallas, foram testados o Free, o Hollywood e o Derby, além de suas versões ?light?, mas só os primeiros apresentavam irregularidade. Procurada pelo Estado, a direção da Phillip Morris, empresa que produz ambas as marcas, informou que não foi oficialmente comunicada sobre o exame e, por isso, não se pronunciaria. Para a surpresa dos pesquisadores, os testes com o Hollywood e o Derby concluíram que o teor declarado é maior do que o que os cigarros contêm de fato: no caso do Hollywood, o fabricante informa que são 12 mg de alcatrão, quando foram encontradas apenas 10; já no maço do Derby consta 12 mg, ante 11 mg descobertas na análise. No caso do Free não foi constatada discrepância. A International Standard Organization (Iso), cuja metodologia é utilizada como padrão em todo o mundo, estabelece que os teores que constam das embalagens podem ser 15% maiores ou menores do que os níveis reais das substâncias. ?O problema é que as indústrias sempre nivelam pelo índice máximo. Eles não querem gastar dinheiro em pesquisa para diminuir os efeitos nocivos do cigarro?, afirmou a gerente da Divisão de Estudos Clínicos e Laboratoriais do Tabaco do Inca, Silvana Rubano Turci. As amostras foram enviadas em setembro, e o resultado saiu no fim de outubro. O objetivo era descobrir se as indústrias já estão se adaptando à resolução 46 da Anvisa ? que estabelece 12 mg de alcatrão, 12 mg de monóxido de carbono e 1 mg de nicotina como o máximo tolerável nos cigarros. Em fevereiro, a análise será refeita. A nova legislação determina ainda que as fábricas não poderão mais fazer uso dos descritores ? palavras como ?light? ou ?suave? ? nas embalagens de cigarros considerados de teores mais baixos. Apesar da diferença entre os teores declarados no maço e os reais, o teste revelou que o mercado já está diminuindo a concentração de compostos nocivos nos cigarros. Todas as marcas analisadas tinham menos alcatrão do que no último exame do gênero, feito há seis anos. No Free, por exemplo, havia 11 mg de alcatrão ? agora são 6 mg. A nicotina, substância que causa a dependência, também está sendo reduzida, embora em menor escala. Em setembro do ano que vem, os índices de alcatrão e monóxido de carbono terão de baixar ainda mais, para 10 mg. Segundo Silvana Turci, o fato de os maços apresentarem teores menores do que os verificados pelos testes não pode ser punido, pelo menos pela legislação atual. ?Isso não é o mais importante. O fumante não entende o significado dos teores. Temos que chamar a atenção do consumidor para o fato de que, independentemente das concentrações, é impossível fumar e não correr algum risco. Em cada cem doentes com câncer no pulmão, 90 são fumantes. Não há como escapar?, afirmou.

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