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Cientistas "produzem" mosquito contra a malária

Por Agencia Estado
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Um mosquito transgênico, sem a capacidade de transmitir malária, pode integrar dentro de alguns anos o arsenal de combate à doença, que mata uma pessoa no Planeta a cada 30 segundos. O anófeles geneticamente modificado é resultado do trabalho de cinco cientistas, entre eles dois brasileiros, Marcelo Jacobs-Lorena, que chefiou a equipe, e Luciano Moreira, pós-doutorando. "A malária mata tanto quanto a aids e a tuberculose", diz Lorena, paulistano, formado em química pela USP e radicado nos EUA há 25 anos. O estudo, que está sendo publicado na revista "Nature", mereceu também um comentário de dois cientistas da Alemanha, que destacam outra brasileira, Margareth Capurro, da USP, que trabalha na mesma linha de pesquisa, mas com Aedes aegypti, o transmissor da dengue. As pesquisas sobre malária andavam meio paradas nas últimas décadas, mas a revolução genômica deu novo impulso aos estudos sobre a doença. O genoma do Plasmodium falciparum, o mais importante dos protozoários que causam a doença, foi seqüenciado, bem como o do Anopheles gambiae, o transmissor da malária na África. "Isso, somado ao seqüenciamento do genoma humano, nos deu novas ferramentas para enfrentar a doença", explica Lorena, da Case Western University, de Ohio. Daí a retomada das pesquisas, como de vacinas, hoje financiadas pela Fundação Bill e Melinda Gates. Gene artificial Os pesquisadores criaram um "gene artificial" baseado num peptídio - uma seqüência de aminoácidos, as unidades constituintes de uma proteína - que impede o parasita de atravessar a parede do intestino do mosquito e passar para as glândulas salivares. A ele foi acrescentado um trecho de DNA que ativa esse peptídio quando o mosquito ingere sangue. Esse gene foi introduzido em embriões do inseto. São os plasmódios presentes na saliva que penetram no organismo da pessoa picada pelo mosquito. "Esse peptídio se liga aos mesmos receptores que o parasita usa para passar para as glândulas salivares", diz Lorena. Ou seja, bloqueiam a passagem do parasita e impedem sua transmissão. O pesquisador admite também que o uso de um só gene para bloquear a transmissão da doença não é 100% eficaz. "O ideal seria trabalhar com dois ou três genes", afirma o pesquisador, que trabalhou com o Anopheles stephensi, mais comum na Índia. Para o cientista, quando for produzido um anófeles incapaz de transmitir a doença, será possível dedetizar a área com o mosquito "natural", eliminar o maior número possível deles e introduzir o transgênico. A aposta do pesquisador é que os transgênicos, sem capacidade de transmitir o plasmódio, tenham uma vantagem evolutiva sobre os outros e passem o gene "artificial" a seus descendentes.

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