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Chávez pede revisão das reuniões de cúpula

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Por Agencia Estado
Atualização:

Em seu discurso na 12ª Cúpula Ibero-americana, encontro que reúne 21 chefes de Estado nesta sexta-feira na República Dominicana, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, pede uma revisão e um novo direcionamento para reuniões desse tipo. Veja a íntegra de seu pronunciamento: "Queremos fazer uma colocação cuja pertinência é evidente e que a Venezuela vem defendendo conseqüentemente em todos os cenários internacionais. Trata-se da necessidade dos mecanismos das cúpulas, assembléias, foros universais, ao que assistem os chefes de Estado, serem revisados a fundo. Sua dinâmica tem que ser reestruturada e relançada para que sirva verdadeiramente aos interesses dos povos de todo o mundo. Convém dizê-lo de forma direta: os chefes de estado não podem seguir desempenhando o papel de ilustres convidados de pedra nas grandes reuniões internacionais. É necessário que isso seja dito porque nas mesmas ocorrem coisas sumamente irregulares. Por exemplo: os documentos são preparados por grupos técnicos, representantes dos países e especialistas nos temas a tratar. Posteriormente, chegam às cúpulas os chefes de estado, os chefes de governo, reúnem-se em mesas redondas para debater os temas e propor soluções, diversas soluções. Então, o que acontece? Apesar de que algumas destas propostas dos chefes de estado puderam obter um sólido consenso da grande maioria, apesar de que 90% dos presentes podem levantar a mão para aprová-las, não há forma nem maneira de que esta corrente de opinião majoritária se reflita nas conclusões finais. Podemos nos perguntar com toda legitimidade: Para que viemos os chefes de Estado se o que propomos não tem nenhuma incidência real? Não é possível aceitar um mundo manejado e mandado pelos tecnocratas e muito menos a imagem de um mundo onde os chefes de Estado, os chefes de governo ? representantes de milhões de seres humanos ? estão subordinados aos ditados da tecnocracia. Este é o mundo ao contrário, o mundo invertido, o mundo de pernas para cima que denunciamos cada vez que temos a oportunidade de fazê-lo. Por isso mesmo, é que, na ocasião em que celebramos em Caracas uma Cúpula sobre a Dívida Social, disse: ?Nós andamos de Cúpula em Cúpula e os povos de abismo em abismo. Como não vão andar de abismo em abismo se a política está invertida, a lógica está invertida. É porque estas Cúpulas têm que ir muito mais além da retórica, das formalidades e dos rituais. Segundo meu critério, se nos limitamos ao ritual conhecido de darmos discursos ente nós, chefes de Estado, a elaborar análises de laboratório e a emitir documentos, produtos de ditas análises, corremos o risco de que estas reuniões sejam percebidas como um luxo supérfluo, inútil e desnecessário. No melhor dos casos, podemos estar dizendo verdades mas não compartilhamos realidades. Trata-se, em minha percepção, de reivindicar o rol político central dos chefes de Estado nestas grandes ocasiões de debate e discussão. Mas, também, é imprescindível que em seu horizonte de interlocução entre a voz dos povos e se faça ouvir com força. Devemos assumir plenamente o compromisso ético com nossos povos até as últimas conseqüências. Quando desde a Cúpula sobre o Financiamento e Desenvolvimento nós propusemos a conformação de um Fundo Humanitário Internacional, o fizemos com a clara consciência de que é necessário propor e desenvolver iniciativas que recolham o clamor dos povos. Temos que dizer que esta proposta é uma conseqüência, uma meditada conseqüência, de nossa posição contra o neoliberalismo selvagem e em favor do surgimento de um contexto mundial diferente e regido por outro tipo de relações. Entendemos que esta é uma ferramenta necessária para travar a batalha contra a violência estrutural que hoje sofrem milhões de pessoas. Sublinho esta ferramenta necessária, por acreditar que esta é uma iniciativa cuja discussão é urgente. A discussão urgente de novas ferramentas para reverter a lógica de um mundo que não é viável deveria ser prioritária para os chefes de Estado quando assistem aos grandes foros internacionais. Como dissemos em Monterrey, e hoje queremos recalcá-lo ainda com mais força, este é o momento de tomar grandes decisões. Dizer e fazer têm que ser uma e a mesma coisa porque a emergência econômica e social universal que hoje vivemos não admite esperas. O Libertador Simón Bolívar dizia que as gangrenas não se curam com paliativos, e a gangrena neoliberal requer remédios eficazes e radicais para curar os danos espantosos que ocasionou como uma interminável crise econômica global e o aprofundamento cada vez mais trágico do abismo Norte-Sul. Superar o neoliberalismo é uma condição necessária para começar a construir um mundo viável a longo prazo. O povo venezuelano está demonstrando quotidianamente, com coragem, vontade e capacidade de transformação coletivas, que é possível um aprofundamento da democracia e de seu caráter participativo no político, econômico e social onde se consolide o bem coletivo e a justiça social sem discriminação e alienação. Isto é o que nos permite lutar por uma transformação democrática profunda e igualitária na forma e no sentido de conceber e organizar as relações internacionais."

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