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Chapa majoritária do PT racha e grupo vai propor independência do governo

Ala ligada ao presidente do partido, Rui Falcão, apresentará documento próprio em congresso da legenda e vai sugerir necessidade se 'diferenciar' das pautas do Planalto

Por Ana Fernandes
Atualização:

São Paulo - A chapa majoritária do PT, Partido que Muda o Brasil (PMB), vai chegar ao 5º congresso do partido dividida. A corrente Novo Rumo, que integra a PMB e tem quadros como o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e o deputado estadual e secretário de comunicação da legenda, José Américo, divulgará nesta quarta-feira, 10, véspera do início do evento em Salvador, um manifesto pedindo mais independência do partido em relação ao governo federal e mais diálogo com as bases. O documento foi elaborado em parceria com outra corrente minoritária, a Esquerda Popular Socialista (EPS). O manifesto do Novo Rumo não tem o aval da Construindo um Novo Brasil (CNB), corrente majoritária com a qual forma a PMB.

"Essa carta reflete a necessidade que a gente tem de se diferenciar, de marcar com maior liberdade o protagonismo que achamos que o PT deve ter. O partido não pode andar a reboque do governo federal", afirmou Américo ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. Ele foi o principal articulador da proposta de levar um documento separado da CNB. "Não somos contra o ajuste fiscal nem temos nada pessoal contra o ministro (Joaquim) Levy, entendemos que o diálogo com o mercado tem que existir. Mas precisa haver também um diálogo com o andar de baixo. A gente precisa voltar a dialogar com o povo, reconectar com a nossa base", defendeu.

Presidente nacional do PT,Rui Falcão 

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O congresso ocorre em meio a mais grave crise política do partido e do governo Dilma. Nessa terça, o estadao.com.br também revelou detalhes das propostas defendidas pelo grupo de Lula. No documento intitulado "Carta de Salvador", ele sugere uma "nova política de alianças", ancorada por uma frente de partidos e movimentos sociais, e faz críticas veladas ao PMDB, partido da base aliada.

A avaliação de integrantes do Novo Rumo é de que a CNB acabou pressionada pelo governo e, por isso, a PMB apresentou um texto tímido, institucional, que não deu destaque a pautas caras ao partido, como o fim do fator previdenciário, o estabelecimento da jornada de 40 horas, a taxação de grandes fortunas e heranças, além da regulação dos meios de comunicação. Vários dos principais quadros da CNB estão diretamente ligados ao governo - como os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Jaques Wagner (Defesa), Edinho Silva (Comunicação Social), Ricardo Berzoini (Comunicações), Arthur Chioro (Saúde), além do líder do governo na Câmara, José Guimarães.

A corrente Novo Rumo também considera que a tese apresentada pela PMB não colocou claramente a independência que a bancada petista deve ter em relação ao governo federal para defender as questões trabalhistas e os programas sociais - atingidos pelos cortes no orçamento. 

"O PT precisa recuperar o seu protagonismo na cena política brasileira, afirmando a sua condição de partido independente, com peculiaridades e bandeiras próprias. Não pode correr o risco de comprometer a sua legitimidade como representante da maioria do povo trabalhador. Isso significa defender na sociedade e no Congresso Nacional propostas próprias que correspondam aos anseios mais profundos de sua base social, sem ficar esperando que o governo o faça", diz trecho do documento obtido pelo Broadcast Político. "A aprovação das 40 horas semanais de trabalho (...) é um exemplo de luta que bancada federal petista poderia levar à Câmara Federal(...). Outro exemplo é o apoio das instâncias partidárias à posição atual da bancada federal de buscar uma alternativa ao Fator Previdenciário, contra a pressão do governo para que os deputados e senadores petistas votem contra propostas que eles (e o PT) sempre defenderam. Por terem natureza distinta, os atritos e tensões entre o partido e o governo, em especial em momentos com os que estamos atravessando, são inevitáveis e até desejáveis", afirma o texto.

Na linha do que disse Américo, o documento afirma que "o PT precisa reatar com urgência os laços com a sua base social" e que "a defesa do governo Dilma não pode se constituir em um obstáculo a este enorme desafio do partido de se reaproximar de seus apoiadores". 

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A tese apresentada pela PMB traz um texto mais ameno, que reforça em diversos pontos o apoio e a defesa do governo Dilma e do legado de 12 anos de governo petista. Enquanto o texto do Novo Rumo com a EPS quer instar o governo "a reassumir as bandeiras populares que o levaram à vitória eleitoral em 2014".

Área social. O texto também é enfático a defender o custeio de programas sociais como Prouni, Pronatec, Ciência sem Fronteiras, Minha Casa, Minha Vida, Mais Médicos, além do fortalecimento do SUS, e dos programas de saneamento básico e de apoio ao acesso à água potável. "Nada justifica cortes de gastos nestas áreas", pontua.

Apesar de ter elaborado um documento em separado, a corrente Novo Rumo não adota um discurso de ruptura com a CNB. "Há uma dificuldade de relacionamento aqui em São Paulo, mas não é necessariamente uma carta contra (a CNB)", pondera Américo.

Resolução final. A carta manifesto do Novo Rumo pode influenciar a composição da resolução final do PT, a ser elaborada ao fim do congresso. Enquanto a CNB defenderá um texto mais moderado com relação ao governo, baseado na "Carta de Salvador", antecipada ontem pelo Estadão, o Novo Rumo vai tentar colocar emendas para uma diferenciação mais enfática entre partido e governo, em um afastamento de Dilma.

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A chapa PMB tem pouco mais da metade dos delegados no Congresso - cerca de 54%. O Novo Rumo, tem cerca de 6% dos delegados e a EPS, outros 6%. Se eles tiverem apoios de outras correntes, podem tirar a maioria que a PMB teria para manter o discurso mais moderado e conseguir aprovar emendas mais duras ao governo Dilma. 

A ida da presidente ao Congresso, nesse caso, ainda que não na abertura do evento como inicialmente previa o partido, pode ser determinante nessa disputa interna. Sua presença demonstraria que ela dá importância e pretende ouvir sua base partidária, o que daria força ao texto defendido pela CNB.

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