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Centrais sindicais divulgam manifesto contra Bolsonaro e reclamam que Fiesp 'passa pano'

Documento, firmado por 10 entidades, diz que presidente 'gera confrontos diários' e pede harmonia entre Poderes 

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BRASÍLIA - Dez centrais sindicais divulgaram nesta segunda-feira, 30, um manifesto contra o presidente Jair Bolsonaro e a favor da harmonia entre os Três Poderes. "O próprio presidente se encarrega pessoalmente de gerar confrontos diários, criando um clima de instabilidade e uma imagem de descrédito do Brasil", diz o documento assinado pela Força Sindical, Central Única dos Trabalhadores (CUT), União Geral dos Trabalhadores (UGT) e outras representações trabalhistas.

O texto feito pelas centrais sindicais afirma que o presidente Jair Bolsonaro quer saídas 'não constitucionais e golpistas' Foto: Alan Santos/PR

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O texto é um contraponto ao manifesto que é articulado pela Federação de Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Febraban, que também prega a pacificação dos Poderes, mas não cita Bolsonaro. "O documento passa pano. Fala para os Três Poderes, como se os Três Poderes estivessem prejudicando o País. Não é verdade, quem está prejudicando o País é Bolsonaro", afirmou o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, conhecido como Juruna, ao Estadão.

O manifesto da Fiesp e Febraban, na prática, ainda não teve sua versão final e oficial divulgada até o momento. Após pedido do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, concordou em adiar a publicação do texto, prevista originalmente para amanhã.  

Juruna afirmou que Skaf convidou os sindicatos para participarem do manifesto organizado pelos industriais, mas disse que o convite foi recusado por considerarem que deveria haver críticas diretas ao chefe do Poder Executivo.

O texto feito pelas centrais sindicais afirma que Bolsonaro quer saídas "não constitucionais e golpistas": "Ninguém aguenta mais. Vivemos no limiar de uma grave crise institucional. A aparente inabilidade política instalada no Planalto que acirra a desarmonia entre os poderes da República, esconde um comportamento que visa justificar saídas não constitucionais e golpistas".

Apoiadores de Bolsonaro organizam atos em várias cidades no feriado do dia 7 de setembro. Entre as pautas das manifestações estão ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Já o documento da Fiesp teve origem e foi inicialmente articulado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Por enquanto, cerca de 200 entidades já teriam assinado o manifesto, como a Associação Brasileira do Agronegócio. O texto também tem o objetivo de demonstrar o incômodo nos setores produtivo e financeiro com a crise institucional fomentada pelo presidente Jair Bolsonaro. No entanto, o chefe do Poder Executivo não será citado nominalmente.

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O documento faz um apelo conjunto ao Executivo, Legislativo e Judiciário, pedindo que “cada um atue com responsabilidade nos limites de sua competência, obedecidos os preceitos estabelecidos na nossa Carta Magna”.

Se por um lado desagradou às centrais sindicais, o texto organizado por Skaf também provocou incômodo dentro do Poder Executivo. Por causa da origem do manifesto ter sido na Febraban, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal comunicaram ao governo que pretendem deixar a entidade.

O presidente tem adotado nas últimas semanas uma postura de enfrentamento às instituições, com críticas ao Poder Judiciário, que ele acredita, sem evidências, conspirar para tirá-lo do governo, e aos governadores, que são quem Bolsonaro culpa pela alta do preço do combustível, ainda que na composição dos tributos também existam impostos federais.

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Os signatários do texto da Fiesp que pede harmonia entre os Poderes são associações, empresários, economistas e outros nomes da sociedade civil. Dentre os que assinam estão também a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

Entre os empresários que compõem o documento estão nomes recorrentes em manifestos anteriores com críticas contundentes ao governo Bolsonaro e às condutas ou declarações do presidente, como Luiza Trajano, do Magazine Luiza, e Guilherme Leal, da Natura. Embora a Abag também esteja entre as que assinam o texto da Fiesp, o agronegócio está dividido. Parte importante do setor ruralista apoia as manifestações pró-Bolsonaro e contra o STF.