Cenário: Orçamento e ajuste fiscal preocupam governo, que busca alternativas

Rejeição de relator da proposta Orçamentária de 2016 em incluir CPMF, possibilidade de atraso na aprovação de alterações da meta fiscal e crise com PMDB fazem Planalto se articular

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Por Tania Monteiro
Atualização:

Brasília - Uma nova preocupação tomou conta do Palácio do Planalto após as declarações do relator da proposta Orçamentária de 2016, deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), que rejeitou, juntamente com outro integrante da Comissão, senador Acir Gurgacz (PDT-RO), a inclusão de recursos provenientes da recriação da CPMF e da cide-combustíveis no Orçamento. A presidente Dilma Rousseff tem conversado com integrantes da Junta Orçamentária para buscar alternativas que já estão em estudo pelo Ministério da Fazenda. Mas Dilma quer que as negociações sejam rápidas para evitar que o assunto se arraste e seja usado como desculpa para os parlamentares atrasarem a votação do orçamento. 

Paralelamente a isso, a presidente está preocupada com a possibilidade de atraso da aprovação da alteraçã da meta fiscal de 2015. Esse poderia ser um problema a mais no conturbado quadro politicamente difícil enfrentado pelo Planalto. O governo sabe que esse ingrediente poderia ajudar a alimentar a batalha do impeachment.

A presidente Dilma Rousseff e o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner Foto: Evaristo Sa/AFP

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Na manhã desta sexta-feira, 6, antes de participar da reunião da presidente Dilma Rousseff com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio da Alvorada, o ministro da Casa Civil Jaques Wagner conversou com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O clima com o partido ganhou uma pitada de descontentamento e não está bom, principalmente depois de a presidente Dilma ter se reunido, na quarta-feira, 4,com o líder da legenda, Leonardo Picciani, e seu pai, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani. Os dois estão se movimentando pela sucessão de Eduardo Cunha, na Câmara no momento em que a Comissão de Ética começa a analisar a cassação do presidente da Casa. Além disso, Picciani não se cansa de dizer que conta com a "simpatia" do Planalto.

Na conversa com Jaques Wagner, Renan teria se colocado à disposição do governo para apressar a votação de medidas importantes no Congresso. Mas o próprio Renan não gostou de o Planalto ter rejeitado os 45 dias que deu ao governo para se defender das pedaladas e reclamou isso com diversos interlocutores. Ao mesmo tempo, Eduardo Cunha, assim como o vice-presidente Michel Temer e outros integrantes da cúpula peemedebista estão muito irritados com a atenção de Dilma a Picciani, que ganhou dois ministérios e inúmeros cargos na Saúde. Além disso, ressaltam que mesmo tão prestigiado pelo Planalto, que teria demonstrado sua simpatia pelo futuro candidato,prometeu os votos no Congresso, mas até agora não entregou nada ao governo.

Todos esses problemas se somam à demora do Congresso em aprovar medidas essenciais para ajudar o ajuste fiscal como a DRU, que precisa ser votada agora por causa do princípio da anualidade, e a repatriação de recursos. Mais uma vez, o governo não obteve sucesso na tentativa de votar medidas, justamente num momento em que gostaria de apresentar uma vitória, inclusive ao mercado, mostrando que conseguiu reorganizar sua base e que vai conseguir retomar o controle da economia.

A decisão da presidente Dilma Rousseff de antecipar o envio da defesa do governo ao Congresso desagradou governistas e dividiu assessores presidenciais, por causa do incômodo que causou no PMDB. Muitos desses assessores não entendem o motivo da antecipação e a pressa em tentar “encerrar” a questão. Os incômodos provocados, de acordo com auxiliares, mostrou que não havia mesmo motivo para esse adiantamento e já há quem classifique essa decisão como um erro.

Além disso tudo, ainda há a preocupação constante da presidente e do Planalto com a atitude que Cunha possa ter, disparado por qualquer motivo que ele considere ser um movimento contra ele. Apesar de enfraquecido, o presidente da Câmara ainda detém o poder de deflagrar o processo de impeachment contra Dilma.  

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