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Cenário: Crise só acaba de vez quando ruas e Lava Jato arrefecerem

Desta vez a crise não se restringe apenas à esfera política. Qualquer tentativa de decretar o fim da crise é precipitada.

Por Alberto Bombig
Atualização:

Uma das marcas da política brasileira sempre foi a capacidade conciliatória de seus agentes. Orientados pela fisiologia e guiados por um instinto aguçado de sobrevivência, os políticos, nos momentos de turbulência, sempre tentam se entender em busca da autopreservação. 

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A crise que envolve o segundo mandato de Dilma Rousseff havia bagunçado esse arranjo: petistas lutavam contra petistas, peemedebistas contra peemedebistas, peemedebistas contra petistas e Eduardo Cunha (e sua turma) contra todos, numa fagocitose sem fim da base governista. 

Nos últimos dias, com a intervenção do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a tropa começou a se reagrupar e o Planalto passou a vislumbrar a possibilidade de, ao menos no âmbito político, obter algum controle da situação. A classe política brasileira, mais uma vez, deu sinais de retorno ao seu modo tradicional de operar, o da união de interesses em torno da força do governo e conveniências eleitorais. Foi assim no mensalão (2005), por exemplo. Desta vez, no entanto, a crise não se restringe apenas à esfera política, que é controlada justamente pelos... políticos.

A novidade agora é que existem outras dimensões da crise que fogem ao alcance de Dilma, de Renan, de Cunha, da oposição e dos conchavos brasilienses.

Uma dessas esferas é a Operação Lava Jato, que investiga e prende políticos, entre outras “personalidades”. A outra é justamente a força das ruas, a ser testada hoje em todo o País. Manifestações contra o poder não são algo necessariamente novo no Brasil. Mas estão longe de ser corriqueiras e quase sempre tiveram os partidos e grupos de centro-esquerda como protagonistas. Desde a onda iniciada em 15 de março último, essa ordem se inverteu e revelou a dificuldade do PT de lidar com os protestos. 

Portanto, antes que as ruas escancarem a dimensão de sua indignação e a Lava Jato dê algum sinal de arrefecimento, será precipitada por parte do governo Dilma qualquer tentativa de decretar o fim da crise.

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