Existe um consenso que une políticos da direita e da esquerda na Itália: Cesare Battisti é um assassino que deve ser extraditado. Desde antes da execução em 1979 de Guido Rossa, sindicalista da Confederazione Generale Italiana del Lavoro (CGIL, a central sindical comunista), o Partido Comunista Italiano esteve entre as forças políticas que defendiam uma linha-dura no combate ao terrorismo – tanto de direita quanto de esquerda – na Itália. Rossa foi executado a tiros por três integrantes das Brigadas Vermelhas (BR, na sigla em italiano), grupo de extrema-esquerda. Na visão dos brigadistas, Rossa era culpado por ter denunciado um terrorista infiltrado em sua fábrica.
Muitos dos integrantes de grupos como BR, Prima Linea ou Proletários Armados pelo Comunismo (PAC) – onde Battisti militava – se refugiram na França, na Nicarágua sandinista e em outros países que lhes deram abrigo a partir dos anos 1980. O presidente socialista francês François Mitterrand (PS) considerava que as duras leis antiterror da Itália não garantiam o devido processo legal aos acusados. Instituiu assim o que ficou conhecido como a doutrina Mitterrand – o exílio a quem quer que passasse para o outro lado dos Alpes. Battisti chegou lá em 1981. Quando o gaullista Jacques Chirac (RPR) governava a França e o direitista Silvio Berlusconi (FI) a Itália, a política de Mitterrand foi arquivada.
Antes que fosse preso, Battisti fugiu para o Brasil em 2004. Havia então se tornado um escritor famoso na França e sua causa era defendida por intelectuais como o filósofo Bernard-Henri Lévy. Veio para cá no rastro de outros italianos, que exilados no País, eram procurados na Itália por terrorismo. Agora que a doutrina Lula – que vetou sua extradição – pode ser revista, Battisti é apanhado a poucos quilômetros da fronteira de outro país governado por um líder de esquerda: a Bolívia de Evo Morales.