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CENÁRIO: A maldição do "capitão do time"

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Por Vera Rosa
Atualização:
O ex-presidente Lula Foto: Dida Sampaio|Estadão

Brasília - Ao assumir a Casa Civil do governo Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será o “capitão do time” e o comentário no mundo político é que ofuscará de uma vez por todas sua criatura. A imagem dos dois, porém, está grudada, para o bem ou para o mal. Não foi uma nem duas vezes que Lula disse, nos últimos tempos, que o fracasso de Dilma seria a ruína dele.

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Agora, no rastro de delações premiadas que aterrorizam o Palácio do Planalto, e sem o capital político de outrora, Lula tentará barrar o impeachment de Dilma para salvar “o projeto” do PT.

O ex-presidente revelou a interlocutores que tentará montar um grande “pacto pela governabilidade”, com medidas para reaquecer a economia. Assegurou que “não se trata de um cavalo de pau”, mas todos os esforços serão envidados pelo PT para uma guinada no modelo levado a cabo pelo titular da Fazenda, Nelson Barbosa.

O primeiro efeito imediato deverá ser o arquivamento da proposta de reforma da Previdência, que Barbosa pretende apresentar ao Congresso em maio. Lula insiste na liberação de crédito na praça e no afrouxamento do ajuste fiscal para a retomada do emprego, queda da inflação e dos juros e empurrão nos investimentos. Argumenta que somente socorrendo o “andar de baixo” Dilma sobreviverá.

Se conseguirá agir nesse cenário de conflagração política, quando ele próprio foi alvejado pela Lava Jato, ninguém sabe. A oposição e parte do PMDB dizem que não, mas o desfecho dessa novela de capítulos eletrizantes é imprevisível.

No café da manhã desta quarta-feira com Dilma e os ministros Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Jaques Wagner (de saída da Casa Civil), e também no jantar de ontem, no Palácio da Alvorada, Lula manifestou incômodo com a leitura de que entraria para o governo com o objetivo de ganhar foro privilegiado de julgamento e se proteger do juiz Sérgio Moro. “Eu não preciso disso a essa altura da vida”, disse ele, segundo relato de ministros. “Minha defesa eu mesmo faço”.

Na Esplanada, porém, há quem argumente que Lula pode ser “o homem certo na hora errada”. Em 2003, o “capitão do time”– expressão cunhada por ele mesmo, quando escolheu José Dirceu para comandar a Casa Civil – não deu sorte para o governo nem para o PT. Dilma assumiu a cadeira de Dirceu em 2005, no rastro do escândalo do mensalão, e quase seis anos depois subia pela primeira vez a rampa do Planalto.

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A maldição da Casa Civil, no entanto, é uma realidade que perdura até hoje, com vários ministros abatidos nesse posto.