Celular e mortadela na 'sessão coruja' da Câmara

Para não cair no sono, deputados se distraíram com aparelho; protesto distribuiu sanduíches

Por Daniel de Carvalho , Igor Gadelha e BRASÍLIA
Atualização:

O revezamento de deputados garantiu que o plenário não ficasse esvaziado durante uma atípica madrugada de sábado em Brasília. Poucos foram os que, mesmo depois de falar, continuaram na Câmara ao longo das mais de quatro horas na “sessão coruja”, que só terminou às 4h42 de ontem.

Para não dormir diante de repetitivos discursos, o celular era a distração. Liam notícias e conversavam no WhatsApp. Ironizavam discursos dos adversários e trocavam vídeos e memes. Um deputado ajudou os servidores que trabalhavam desde cedo distribuindo energéticos.

  Foto: WILTON JUNIOR | ESTADÃO CONTEUDO

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Ao longo da madrugada, as plaquinhas pró e contra impeachment que antes eram seguradas pelos deputados para que ficassem visíveis na TV foram encaixadas nos monitores dispostos nas bancadas.

As caras de sono só eram desfeitas na hora de discursar. Muitos deputados, sabendo que estavam ao vivo na TV, gastavam seus 15 minutos de fama falando diretamente para as câmeras. Deputados filmavam uns aos outros e faziam transmissões ao vivo em redes sociais.

Houve poesia, citações literárias, bíblicas e até dos áudios de interceptações telefônicas. Quando o presidente da comissão, deputado Rogério Rosso (PSD-DF), chamava algum colega ausente, ouvia dos pares em tom de brincadeira: “Dormiu”.

Mortadela. Se o sono afastou alguns, fome não foi um problema. Fora do plenário, manifestantes contrários ao impeachment distribuíam pão com mortadela. Nesta crise, convencionou-se relacionar mortadela a apoiadores do governo e coxinha a defensores do impeachment.

Sanduíches foram oferecidos aos parlamentares. Um dos deputados abordados foi Mendonça Filho (DEM-PE), favorável ao impeachment, que recusou. “Gosto de coxinha”, afirmou.

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Os governistas levaram a mortadela ao plenário. O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) comeu. Já a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) tratou do apelido gastronômico em seu discurso. “Não me envergonho do pão com mortadela. Ele faz parte da vida de milhares de pessoas que nunca tiveram nada para comer e, no seu momento de desespero, quem chegasse com uma mortadela estava chegando com um presunto parma para aquelas pessoas”, disse. Rosso também garantiu lanchinhos. Comprou 250 pães com queijo.

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