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Celebridades de rádio e TV viram fenômeno eleitoral

Radialistas, apresentadores de televisão e artistas que resolvem entrar na vida pública se tornaram as meninas-dos-olhos das legendas

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Por Eugênia Lopes
Atualização:

Tratados como celebridades pelos ouvintes e espectadores, os radialistas, apresentadores de televisão e artistas que resolvem entrar na vida pública são as meninas-dos-olhos de partidos políticos. Assim como os evangélicos, eles se transformaram em fenômeno eleitoral e passaram a ser assediados pelas cúpulas partidárias, que estão de olho no caminhão de votos que trazem consigo. Afinal, tanto evangélicos quanto radialistas, apresentadores de TV e artistas têm uma tribuna permanente para fazer suas campanhas. "Fica muito difícil nós concorrermos com esses caras", diz o deputado Carlito Merss (PT-SC), recém-eleito prefeito de Joinville. "É uma concorrência desigual todo o dia." "Esse fenômeno é uma deformação sintomática do nosso sistema eleitoral. Isso acontece porque o único critério dos partidos é quem tem voto. E isso é um convite a esse tipo de candidato-celebridade", afirma o deputado Custódio de Mattos (PSDB-MG), que foi eleito em outubro prefeito de Juiz de Fora. Em 2004, o tucano perdeu as eleições para Carlos Alberto Bejani (PTB), que é radialista. No meio deste ano, Bejani renunciou à Prefeitura de Juiz de Fora depois de ser preso. O palanque eletrônico permanente dos radialistas e apresentadores de televisão tem causado mal-estar entre alguns políticos. Um dos mais incomodados é o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM), que viu seu candidato à Prefeitura de Manaus, o atual prefeito Serafim Correa (PSB), ser derrotado pelo ex-governador Amazonino Mendes (PTB). Para Virgílio, um dos motivos para a derrota de Serafim foi o fato de o vice de Amazonino ser o deputado Carlos Souza (PP), conhecido radialista na Amazônia. "É um absurdo os radialistas ficarem fazendo campanha diariamente, durante os quatro anos que estão no mandato", diz Virgílio, que também reclama do poderio dos donos de repetidoras de televisão nos Estados. O líder tucano quer aprovar uma legislação que proíba os radialistas e apresentadores de televisão de fazer programas no ano que antecede as eleições. "Eles têm de ficar um ano fora do ar", defende Virgílio. "Não vejo motivos para criar uma regra específica para os comunicadores. Então, os líderes religiosos, os advogados e médicos que atendem gratuitamente também têm de se afastar de suas profissões um ano antes", rebate o deputado Flávio Dino (PC do B-MA). Titular por mais de 20 anos de um programa diário de rádio na Região Sul, o senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS) reconhece que a popularidade como radialista foi essencial para sua carreira política. Ele era tão conhecido que, em 1986, quando se candidatou pela primeira vez a deputado estadual pelo Rio Grande do Sul recebeu tantos votos em Santa Catarina que, na ocasião, seriam o suficiente para eleger três deputados estaduais catarinenses. Na época, a votação era em cédulas de papel, em que os eleitores escreviam o que queriam. ASSISTENCIALISMO Para Antonio Augusto de Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), os programas com caráter assistencialista são os principais responsáveis pela eleição de radialistas e apresentadores de TV. Ele cita o caso da recém-eleita prefeita de Natal, Micarla de Sousa (PV), que apresentava programa de televisão. Micarla é a mais velha das três filhas do senador Carlos Alberto de Sousa, morto há dez anos, que comandava programa de rádio no Rio Grande do Norte. "Com certeza essa eleição da Micarla tem um rescaldo do programa de seu pai, que tinha um caráter bem assistencialista", diz Queiroz. Em sua avaliação, a valorização das celebridades, normalmente, acontece em momentos de crise. Por isso, em 2006, a Câmara elegeu 13 comunicadores novatos, que exerceram mandato eletivo pela primeira vez, como o apresentador e costureiro Clodovil Hernandes (PR-SP) e músico Frank Aguiar (PTB-SP). "Era um momento de crise de popularidade do Congresso. Tinha tido a história do mensalão, dos sanguessugas e aí surge espaço para as celebridades." A popularidade dos radialistas, apresentadores de televisão e artistas sempre foi um filão para os partidos políticos. Marta Suplicy, candidata derrotada do PT à Prefeitura de São Paulo, tornou-se nacionalmente conhecida e entrou na vida pública depois de estrelar um programa de televisão dando conselhos sobre sexo. O ex-governador Antony Garotinho (PMDB) é outro que mantém até hoje programa de rádio no Rio de Janeiro. Em época de eleição, a procura por campeões de voto fica mais evidente. Este ano, vários candidatos a prefeito buscaram aliar-se a comunicadores. Em alguns casos, a união deu certo. Em São Bernardo do Campo, o ex-ministro Luiz Marinho (PT) pôs o deputado e cantor Frank Aguiar (PTB) como vice e conseguiu se eleger. Em outros, a iniciativa não deu em nada: o deputado ACM Neto (DEM-BA) convenceu o radialista Raimundo Varela (PRB) a desistir de sua candidatura à Prefeitura de Salvador e a apoiá-lo. Em vão: ACM Neto saiu derrotado da disputa.

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