CCJ aprova PEC que cria cláusula de desempenho e acaba com coligações

Análise da proposta de autoria de senadores tucanos sofre obstrução de partidos como PCdoB e PSOL

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Por Daiene Cardoso
Atualização:

BRASÍLIA - O plenário da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou nesta tarde de quarta-feira,3, a admissibilidade da proposta de emenda à Constituição (PEC) que estabelece cláusula de desempenho para as legendas que irão disputar as eleições de 2018 e põe fim às coligações proporcionais, mecanismo que permite que deputados sejam eleitos pelos votos da coligação. Mesmo com a forte oposição dos partidos pequenos, a Câmara dos Deputados criará agora uma comissão especial para discutir o mérito da proposta.

Deputado Betinho Gomes (PSDB-PE) é relator da proposta na CCJ da Câmara Foto: Lucio Bernardo Jr /Câmara dos Deputados

Há um mês tramitando na CCJ, a análise da PEC sofreu obstrução de partidos como PCdoB e PSOL, que consideram a matéria uma “espada” que coloca em risco a existência dos partidos com pouca representatividade no Parlamento. Um dos principais opositores foi o deputado Rubens Pereira Júnior (PCdoB-MA), que argumentou que o projeto não respeita a isonomia e o pluripartidarismo político brasileiro. “A crise brasileira não é dos partidos pequenos”, acusou o deputado. A PEC é de autoria dos senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Ricardo Ferraço (PSDB-ES) e foi aprovada no Senado em novembro passado. Na CCJ, a proposta é relatada pelo deputado Betinho Gomes (PSDB-PE), que defendeu a cláusula de desempenho. Em discurso, o deputado tucano alegou que a medida protege os partidos programáticos e vai acabar com legendas constituídas para “ganhar recursos públicos”. Betinho considera que a PEC não só acabará com as legendas “fisiológicas”, como dará mais legitimidade aos que saírem vitoriosos nas urnas. “É o voto que decidirá se o partido terão vigor ou não”, emendou. A PEC propõe a restrição do funcionamento parlamentar, do acesso ao Fundo Partidário e do acesso gratuito ao rádio e à televisão aos partidos que não alcançarem pelo menos 3% dos votos válidos nas eleições para a Câmara dos Deputados em 2022, distribuídos em pelo menos 14 Estados, com um mínimo de 2% em cada uma delas. Pela regra de transição da PEC, em 2018 o patamar mínimo será de 2% dos votos válidos na eleição para deputado federal. “A cláusula de barreira é uma blindagem para proteger os grandes partidos”, declarou o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). Além do PSOL, o deputado fluminense lembrou que, se aprovada a PEC, siglas como PHS, PV, PPS, PROS, PTN, PCdoB, PSC e Rede ficarão sem recursos para continuar funcionando. Durante a sessão, o PT se alinhou aos partidos pequenos na obstrução, que durou mais de seis horas. A PEC foi aprovada por 37 votos a 14 contra. Nas contas dos oposicionistas, com a regra de 3% dos votos válidos, hoje só 11 partidos com representação na Câmara sobreviveriam com seus 414 deputados, ou seja, 99 deputados ficariam sem funcionamento parlamentar regular (sem direito a liderança partidária, apresentação de destaques e orientação de bancada no plenário). Para alcançar os 3%, as legendas precisariam conquistar 2,9 milhões de votos. A oposição cogita propor, na comissão especial, a redução dos 2% da regra de transição para 1%, índice que seria distribuído entre nove e não 14 Estados, como propõe a matéria.Coligações. Se aprovada, a PEC estabelece o fim das coligações proporcionais a partir das eleições de 2020, ponto que não foi alvo de críticas na sessão. “Acabando a coligação diminui o número de partidos”, acredita Pereira Júnior. A PEC também prevê que a infidelidade partidária passará a ser punida com a perda do mandato até para o suplente que se desfiliar do partido pelo qual foi eleito. A medida abrangerá os cargos eletivos majoritários. Pelo texto, as agremiações partidárias decidirão livremente sobre a escolha, formação e duração dos órgãos permanentes e comissões provisórias. A PEC propõe ainda a instituição da federação dos partidos. O esforço da Câmara é aprovar a PEC a tempo de as novas regras valerem para as eleições de 2018. A proposta tramitará na Câmara paralelamente aos trabalhos da Comissão Especial da Reforma Política, que analisa temas correlatos, mas que não exigem alteração da Constituição.Democracia direta. Na terça, 2, a comissão já em andamento aprovou um projeto de resolução que dá rito especial a projetos de iniciativa popular no Legislativo e um projeto de lei que permite a sugestão de plebiscito ou referendo pelo Executivo ou por petição popular. O próximo passo do colegiado será colocar em votação um modelo de financiamento público de campanhas eleitorais com teto para doação de pessoa física.