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Caso teve início há três meses

Primeira acusação foi de que lobista pagava contas pessoais de Renan

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Por Guilherme Scarance
Atualização:

O caso Renan Calheiros completa três meses amanhã. A acusação inicial converteu-se em três processos no Conselho de Ética do Senado e um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), esquentando os ânimos de governistas e oposição. O presidente do Senado, porém, mantém a mesma versão desde o início, quando reportagem da revista Veja noticiou que um lobista da empreiteira Mendes Júnior pagava suas despesas pessoais - incluindo a pensão da jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha fora do casamento. Ele nega tudo e garante: vai provar que é inocente. Perícia da Polícia Federal na documentação entregue pelo parlamentar, porém, revelou nesta semana inconsistências na evolução patrimonial do presidente do Congresso, sobretudo em 2005, e não provou que saiu de seu bolso o dinheiro para a pensão de Mônica. Ela já depôs e assegura que retirava a soma em dinheiro vivo, na sede da empreiteira em Brasília. O laudo do Instituto Nacional de Criminalística (INC) da PF, entregue na terça-feira à noite aos senadores, indicou que os saques nas contas de Renan não batem com os valores nem com as datas de entrada de dinheiro na conta de Mônica. E mais: questiona operações de venda de gado com as quais ele alega ter faturado cerca de R$ 1,9 milhão em quatro anos. Foi na tentativa de se defender que Renan mais se complicou. Ele apresentou os documentos sobre venda de gado em Murici, sua cidade natal, em Alagoas, para mostrar que tinha como custear, com dinheiro próprio, os valores repassados à jornalista. Mas não conseguiu comprovar as transações: nem os atestados de vacinas batem com os dados alegados. O laudo de 38 páginas avalia que há indícios de falsidade ideológica. E recomenda investigação com diligências, seja a pedido do Senado ou por determinação do Supremo. TÁTICA Renan, primeiramente, discursou da cadeira de presidente do Senado. Depois, desceu à tribuna e, por fim, falou do plenário, lado a lado com os colegas senadores. Se no início guerreou com a oposição, acusando-a de tentar derrubá-lo do cargo e desgastar o governo Lula, depois amansou o tom, tentando pacificar as relações. Antes das acusações, ele tinha bom trânsito entre governistas e oposicionistas, tanto que se elegeu, com facilidade, duas vezes para o cargo de presidente do Congresso. Fez de tudo, juntamente com sua tropa de choque, para atrasar a tramitação do processo, instaurado em 6 de junho, a pedido do PSOL. Como o laudo da PF já está no Conselho de Ética, depois de Renan ter se defendido chega a fase de o trio de relatores emitir um parecer sobre o caso. Segundo os que arriscam uma previsão, o processo pode ser julgado no fim de setembro. Se o parecer dos relatores - um deles é da tropa de choque do peemedebista - for favorável à cassação, o pedido seguirá para o plenário, onde precisará de 41 votos para ser aprovado. FÁBRICA Enquanto isso, já corre no colegiado o segundo processo. Passados mais de 40 dias após a denúncia inicial, o senador foi acusado de interceder em favor da cervejaria Schincariol junto ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e à Receita Federal. A Schincariol pagou R$ 27 milhões por uma fábrica de refrigerantes do irmão de Renan, o deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), que estaria prestes a fechar e valeria bem menos. Todos os citados negam a acusação, incluindo a empresa. Em nova reportagem da Veja, Renan foi acusado de comprar - com a ajuda de parentes, que teriam sido usados como laranjas - duas rádios, em sociedade oculta com o usineiro e ex-deputado João Lyra. Eles são desafetos políticos em Alagoas. As emissoras valeriam R$ 2,5 milhões e o senador teria pago sua parte em dinheiro, segundo Lyra. Renan Calheiros Filho, o Renanzinho, e Tito Uchôa, primo do senador, são sócios de uma das emissoras. PSDB e DEM entraram com representação, cobrando apuração da suposta compra das rádios. O pedido já foi autorizado pela Mesa Diretora do Senado e significa mais um processo por quebra de decoro à frente. Renan tem, ainda, mais uma preocupação - a pedido do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, o Supremo abriu inquérito e pediu a quebra do sigilo bancário e fiscal do parlamentar nos últimos sete anos. O motivo é aquela primeira denúncia: a ajuda do lobista. Desta vez, a PF vai atuar diretamente no caso.

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