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Caseiro Francenildo rejeita indenização de R$ 35 mil

Por ter seu sigilo bancário violado, no episódio que levou à queda do ministro Antonio Palocci, ele espera que a Caixa Econômica chegue pelo menos aos R$ 50 mil

Por Rosa Costa e BRASÍLIA
Atualização:

O caseiro Francenildo Costa rejeitou ontem ontem a proposta da Caixa Econômica Federal (CEF) de reparar com a indenização de R$ 35 mil o crime de violação bancária praticado contra ele há dois anos. Uma nova audiência foi marcada para daqui a dez dias pelo juiz Itagiba Catta Neto, da 4ª Vara Federal, a pedido dos representantes da Caixa. Até lá, os advogados da CEF esperam obter autorização da diretoria para chegar a uma indenização de pelo menos R$ 50 mil. O advogado do caseiro, Wlicio Chaveiro Nascimento, lembrou que o valor não se compara ao pedido inicial de R$ 17 milhões, adotado com base na "gravidade do ato e sua motivação e o lucro auferido pela Caixa". Mas alegou que não pode ignorar as dificuldades de sobrevivência enfrentadas por Francenildo, desde março de 2006, quando o Estado publicou seu relato sobre a mansão do Lago Sul, onde trabalhava, freqüentada pelo então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e seu amigos de Ribeirão Preto, em que haveria festas com garotas de programa e ocorreria suposta partilha de dinheiro. Palocci era chamado no local de "chefe", como contou o caseiro na CPI dos Bingos. Francenildo acusa Palocci de ter ordenado a quebra de seu sigilo bancário, para pressioná-lo a se calar. "O que eu temo é que esse valor, em vez de inibir, termine estimulando a prática condenável de um crime", alegou o advogado. Na primeira audiência de instrução, dia 30 de junho, os advogados da Caixa insistiram na proposta de uma indenização de R$ 15 mil. Ontem, Francenildo chegou a dizer ao juiz que aceitaria a indenização de R$ 50 mil, não por concordar com ela, mas por "duvidar da Justiça do País". "Se tivesse lei no nosso País, eu não aceitaria. Como não tem, sou obrigado a aceitar", afirmou. O caseiro disse que continua confiando na condenação do ex-ministro Antonio Palocci, apesar de ouvir "pessoas dizendo que os ricos nunca vão presos no Brasil". "O que eu queria mesmo é sumir, sair daqui, esquecer de tudo o que aconteceu", desabafou. Para o advogado, a hipótese de Palocci ser absolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) é inaceitável. "Seria a decadência de nosso Estado democrático de direito", defendeu. Segundo ele, está mais do que provado que o então ministro foi o "mandante" da violação da conta. Ele lembrou que foi o senador Tião Viana (PT-AC) quem levou ao ministro a notícia recebida da ex-diretora do jornal O Globo, Helena Chagas, de que havia ouvido de seu jardineiro a informação de que Francenildo tinha dinheiro na conta para comprar uma casa. Ele havia recebido R$ 25 mil de seu pai para que desistisse de um processo pelo reconhecimento da paternidade. "A partir daí, saiu do gabinete do ministro a senha para a diretoria da Caixa invadir a conta", afirmou o advogado de Francenildo. Palocci disse ontem que não comentaria o assunto e que tudo está nas mãos dos advogados. Palocci não aceitou trocar o julgamento no plenário do STF pela suspensão do processo e o cumprimento de trabalho comunitário como pena alternativa, conforme o Estado divulgou ontem. Os advogados dos outros dois investigados pela violação da conta de Nildo, o ex-presidente da Caixa Jorge Mattoso e o jornalista Marcelo Netto, pediram a suspensão do processo e o estabelecimento de uma pena alternativa. O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, propôs que os dois compareçam, de dois em dois meses, durante dois anos, a escolas da rede pública de ensino "para proferir palestra sobre o sistema democrático e o processo eleitoral".

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