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Capitão troca orla carioca pelo desafio da selva

Marcelo Sartori Aguiar comanda posto na fronteira com a Guiana

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Por Redação
Atualização:

Filho de um general do Exército, o capitão Marcelo Flávio Sartori Aguiar, de 29 anos, poderia estar servindo em um batalhão importante do Rio de Janeiro ou de São Paulo. Carioca da orla, ele preferiu ser colocado à prova num posto avançado na distante fronteira do Brasil com a Guiana Francesa. Em Clevelândia do Norte, distrito de Oiapoque, no Amapá, a 600 quilômetros da capital, Sartori comanda a 1ª Companhia de Fuzileiros da Selva e tem sob suas ordens 90 soldados, 76 recrutas, 22 cabos, 25 sargentos e outros 10 oficiais. Parte do efetivo atende também o Pelotão Especial de Fronteira da Vila Brasil, povoado aonde só se chega de barco. O capitão Sartori faz parte de um grupo de oficiais selecionados para comandar as tropas de elite do Exército brasileiro. "Temos o melhor combatente de selva do mundo", assegura o general Heleno Pereira, comandante militar da Amazônia. Os guerreiros são treinados para transformar a floresta em aliada: conhecem técnicas de sobrevivência, sabem se camuflar e emboscar o inimigo. Jovem e de estatura baixa para os padrões do Exército, Sartori encarou o comando da companhia como um desafio. "A selva tem alguma coisa que atrai quem é da infantaria." Muitos dos comandados são cabos e sargentos com 20 anos de experiência. "Quando cheguei vi olhares de desconfiança, mas logo eles sentiram a personalidade do comandante." Sartori fez os primeiros estudos em colégios militares do Rio e de Fortaleza. Formado nas escolas de oficiais de Campinas (SP) e Resende (RJ), serviu no 14º Batalhão de Engenharia Motorizada em Jaboatão de Guararapes (PE) e foi instrutor da Academia Militar de Agulhas Negras (Aman). Fez ainda a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais no Rio. O coronel Henrique de Jesus Pedrosa Batista, comandante do 34º Batalhão de Infantaria da Selva de Macapá, é uma referência na formação de jovens soldados. Quando comanda um treinamento básico de navegação fluvial, faz flexões e pula na água com os recrutas. Batista, que fez parte do quinto contingente da tropa de paz no Haiti, já serviu em São Paulo, no Rio Grande do Sul e em Roraima. Tem curso de operações com helicóptero, de combate na caatinga e de aperfeiçoamento especial, o mestrado militar. Cursou ainda a Escola do Estado-Maior do Exército. No batalhão de Macapá, os 250 recrutas são voluntários, escolhidos entre 3 mil candidatos. A tropa marcha ao som da ópera O Guarani, de Carlos Gomes, mas o coronel gosta de vê-los entoar a Oração do Guerreiro da Selva. Em Marabá, a 23ª Brigada de Infantaria da Selva é responsável pela preparação do nono contingente da força especial de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) que servirá no Haiti a partir de maio. Com 1.200 homens, será o primeiro formado integralmente por soldados e oficiais que atuam na região amazônica. A brigada de Marabá vai ceder parte do efetivo porque é a única do Comando Militar da Amazônia que não cuida de fronteiras. Na semana passada, três generais - Heleno, Jeannot e o comandante da brigada, José Wellington Ferreira Gomes - acompanharam um exercício militar de resgate de um refém que teria sido capturado por tropas inimigas, nas margens do Rio Tocantins. Quando o oficial de comando perguntou ao recruta como faria para neutralizar uma sentinela inimiga, ele não teve dúvida: "Corto a jugular dele e cravo a faca no coração, senhor".

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