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Canonização do fundador do Opus Dei reúne 400 mil

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Por Agencia Estado
Atualização:

Aproximadamente 400 mil pessoas participaram hoje da cerimônia na qual o papa João Paulo II canonizou, na Praça de São Pedro, no Vaticano, o fundador do Opus Dei, São Josemaría Escrivá. Os peregrinos lotaram a praça, tanto que duas horas antes da cerimônia, já não era possível lá entrar. Apesar das instalações provisórias para ampliar o espaço, todas as previsões foram superadas. Uma onda humana ultrapassou os limites do Vaticano, tomou conta da Via della Conciliazione e chegou ao Castel Sant´Angelo. Muitos dos peregrinos assistiram à canonização de telões instalados na praça e ruas adjacentes. Acompanhado por mais de 400 cardeais, arcebispos e bispos, o papa celebrou a missa sob um imenso baldaquim. Entre os concelebrantes estavam o cardeal Angelo Sodano, secretário de Estado do Vaticano e dom Javier Echevarría, bispo prelado do Opus Dei. Quando o papa pronunciou a fórmula com a qual declarou santo monsenhor Josemaría Escrivá, a multidão aplaudiu. O coro, então, entoou a antífona Aleluia. Na homilia, pronunciada com voz firme, João Paulo II afirmou a atualidade dos ensinamentos do novo santo. "Encontramos o Deus invisível nas coisas mais visíveis e materiais", disse o papa, citando São Josemaría Escrivá. Segundo o pontífice, a doutrina da santificação da vida cotidiana, difundida pelo fundador do Opus Dei, permite compreender "mais facilmente o que afirma o Concílio Vaticano II?. "A mensagem cristã não desvia os homens da construção do mundo (...) mas, ao contrário, impõe-lhes um dever mais rigoroso," disse o pontífice. Terminada a cerimônia, depois que mais de mil padres distribuíram a Comunhão aos fiéis, o papa convidou o prelado do Opus Dei a entrar com ele no papamovel. Percorreu então os vários corredores da Praça de São Pedro. Josemaría Escrivá recebeu a ordenação sacerdotal em Saragoça, no dia 28 de março de 1925. Em 2 de outubro de 1928 fundou o Opus Dei, instituição da Igreja que abriu aos fiéis um novo caminho de santificação, por meio do exercício do trabalho e no cumprimento dos deveres pessoais, familiares e sociais de cada um. Em 1946, passou a morar em Roma. Fez numerosas viagens aos países europeus e americanos. Em 1974, um ano antes de seu falecimento, esteve no Brasil. "O Brasil! Uma grande mãe que abre os braços a todos e a todos chama filhos", disse em São Paulo. Entre os seus escritos publicados, além de diversos estudos históricos e jurídicos, numerosos livros de espiritualidade. O mais famoso deles, Caminho, ultrapassou 4 milhões de exemplares, em 42 línguas diferentes. Por ocasião de sua morte, no dia 26 de junho de 1975, o Opus Dei contava com mais de 60 mil membros de 80 nacionalidades. Milhares de pessoas, entre as quais muitos cardeais e bispos - mais de um terço do episcopado mundial - solicitaram à Santa Sé a abertura da sua causa de canonização. Milagre No dia 17 de maio de 1992, também na Praça de São Pedro, João Paulo II beatificou o fundador do Opus Dei. Com a canonização, o culto prestado ao novo santo passa a ser universal e sua festa celebrada em 26 de junho. O milagre escolhido para a canonização de São Josemaría Escrivá, verificou-se em 1992. Trata-se, segundo a Igreja, da cura milagrosa de uma grave enfermidade profissional - a radiodermite crônica -, sofrida pelo médico espanhol Manuel Nevado Rey, que desapareceu em novembro de 1992, depois de recorrer à intercessão de Josemaría Escrivá. Segundo especialistas, a radiodermite é uma doença típica dos médicos que mantêm as mãos expostas à ação das radiações da aparelhagem de Raios X durante um tempo prolongado. Trata-se de uma doença evolutiva, que progride de forma inexorável até provocar, com o decorrer dos anos, o aparecimento de câncer de pele. A radiodermite não tem cura. Os únicos tratamentos conhecidos são cirúrgicos (enxertos de pele, amputação das partes das mãos afetadas). Até o momento não foi relatado na literatura médica nenhum caso de cura espontânea de radiodermite cancerizada. Manuel Nevado Rey nascido em 1932 é especialista em traumatologia. Durante quinze anos realizou operações de fraturas e outras lesões, expondo as suas mãos aos Raios X. Os primeiros sintomas começaram a manifestar-se em 1962, e a enfermidade foi piorando, obrigando-o a deixar completamente as operações. Em novembro de 1992, o médico conheceu um engenheiro agrônomo que lhe ofereceu uma estampa do fundador do Opus Dei. Segundo ele, desde o dia em que começou a confiar a sua cura à intercessão de Josemaría Escrivá, as mãos foram melhorando e, depois de uns quinze dias, desapareceram totalmente as lesões. A cura foi total, a ponto de Nevado ter voltado a realizar cirurgias, sem nenhum problema. A cura foi declarada pela Comissão Médica "muito rápida, completa e duradoura, cientificamente inexplicável." Em 9 de janeiro de 1998, o Congresso Especial dos Consultores Teólogos deu a resposta positiva unânime à atribuição do milagre. A Congregação Ordinária dos cardeais e bispos, com data de 21 de setembro de 2001, confirmou esses ditames. Repercussão Oitenta e quatro países estavam representados na cerimônia. O embaixador do Brasil no Vaticano, Oto Agripino Maia, manifestou sua satisfação com "a forte presença brasileira na canonização." Falando ao Estado, o cardeal dom Eugenio Sales, arcebispo emérito da arquidiocese do Rio de Janeiro e um dos concelebrantes da missa, disse que a canonização de Josemaría Escrivá ajudará a Igreja na preservação "da pureza da doutrina, da reta formação da juventude e da fidelidade ao Santo Padre." "Uma das características da pregação de João Paulo II foi o apelo à santidade. Aí está um modelo para os nossos dias", disse o cardeal referindo-se ao novo santo. O cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, ao traçar um perfil do fundador do Opus Dei e de sua mensagem, sublinhou "o forte vínculo que existe entre uma absoluta fidelidade à grande tradição da Igreja, à sua fé, com uma desarmante simplicidade, e a abertura incondicionada a todos os desafios deste mundo." Celebrações As celebrações da canonização continuarão nos próximos dias. Amanhã, o bispo prelado do Opus Dei, dom Javier Echevarría, rezará, também na praça de São Pedro, no mesmo altar em que o papa celebrou, missa de ação de graças pela canonização de São Josemaría Escrivá, depois da qual o papa concederá audiência aos fiéis. Uma grande multidão deverá estar presente. Basta dizer que a prefeitura de Roma, temendo um gigantesco engarrafamento, decidiu que, amanhã, os transporte serão gratuitos. Do dia 8 ao dia 10 serão celebradas 29 missas de ação de graças em mais de 15 idiomas, celebradas por cardeais e bispos em 16 igrejas romanas. A missa para os peregrinos de língua portuguesa, na Basílica de S. Andréa della Valle, será presidida pelo cardeal Saraiva Martins, prefeito da Congregação das Causas dos Santos e concelebrada pelo cardeal Eugenio Sales.

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