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''Candidatura natural tem um nome: Serra''

Bornhausen pede ''bom senso'' e diz que ''erro não se repete'', numa referência à candidatura de Alckmin em 2006

Por Christiane Samarco
Atualização:

Enquanto o PSDB discute prévias para escolher o candidato a presidente, o DEM declara sua preferência pelo governador paulista José Serra e prega o respeito dos tucanos a uma velha regra da política: a candidatura natural. "O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, é um bom nome e merece o maior respeito, mas, como ex-presidente do DEM, membro da Executiva e do Conselho Político, sou obrigado a dizer que há uma candidatura natural e sua tradução é José Serra", diz Jorge Bornhausen em entrevista ao Estado. A despeito dos elogios a Aécio na reunião do Conselho Político do DEM, semana passada, em São Paulo, a preferência por Serra vem desde 2006, quando o PSDB optou pela candidatura de Geraldo Alckmin. "Erro não se repete", adverte. Por isso mesmo, a aposta agora é em Serra. Bornhausen pede "bom senso" ao tucanato. A seguir, os principais trechos da entrevista. O DEM recuou da posição inicialmente contrária às prévias do PSDB? Não. Nós compreendemos a necessidade que tem o PSDB de dar uma boa solução para a escolha de seu candidato. Se eles entenderem que o caminho são as prévias, não há por que contestar. Queremos é que a solução seja boa. E a preferência do DEM é... Há uma regra em política sobre contrariar candidaturas naturais. Candidatura natural é aquela que tem a maior possibilidade de vitória e isto está constatado em todas as pesquisas. Se o PSDB vai decidir por prévias, ou não, a maioria do Conselho Político do DEM é pela candidatura natural, que tem um nome: José Serra. Mas o que define o candidato natural são as pesquisas de opinião? O candidato se define por pesquisas, pela densidade eleitoral do seu Estado, pela posição do Brasil em relação às circunstâncias da crise. Tudo isso indica a candidatura de Serra. Sem nenhum demérito ao governador Aécio, que faz boa administração em Minas, Serra é o melhor perfil para administrar na crise. Tem candidato que larga com 3% nas pesquisas e acaba vencendo a eleição, como Fernando Collor (1989). O sucesso de gestão em Minas não torna Aécio competitivo? Collor era candidato de um partido inexistente. Foi uma aventura política que deu certo, e em seguida deu errado. A escolha, agora, é de um partido grande, sólido, conceituado, com a responsabilidade de ganhar a eleição. Os aecistas do PSDB dizem que ele é a melhor opção pela capacidade de agregar apoios, sobretudo em uma eleição de dois turnos. Eu antevejo uma eleição bipolarizada. Tudo caminha na direção da candidata governista (ministra Dilma Rousseff) contra o candidato da oposição. É muito provável que esta eleição se defina no primeiro turno, porque será realmente um plebiscito em torno de quem poderá dirigir melhor o Brasil na crise. A grande preocupação do PSDB é que Minas Gerais está fechada com Aécio. Tem como trazer Aécio para o projeto Serra sem prévias? Se o caminho escolhido for o das prévias, será exatamente para atender o sentimento da maioria do partido. O sr. acredita que a maioria do PSDB é Serra, assim como o DEM? Eu acredito que a tese da candidatura natural não é a tese de um partido. É uma regra da política, e o bom senso me diz que esta regra será respeitada. Na condição de parceiro do PSDB na sucessão presidencial, qual é o prazo máximo que o DEM defende para a definição da candidatura? Os dois governadores - Aécio e Serra - têm suas obrigações de bem administrar seus Estados. Portanto, exigir que haja uma antecipação desta decisão do PSDB não é o caminho mais correto, porque ainda estamos bem distantes da eleição. Se este assunto for resolvido no final do ano, acho que é o tempo hábil para que tenhamos condições de, com a coligação já formada com o DEM e o PPS, acrescentar mais partidos. E acho que a preocupação deve ser a de conquistar uma boa parcela do PMDB. Sua aposta é que, mesmo em aliança oficial com o PT, na prática o PMDB não fecha com ninguém e uma parcela ficará com o PSDB? A verticalização acabou (regra que obrigava os Estados a reproduzirem a aliança nacional). Portanto, o PMDB de Estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Pernambuco e Mato Grosso do Sul já está conosco (PSDB-DEM-PPS). Estará, portanto, na coligação do Serra. Isto está claro. O que não sei é que decisão o PMDB vai tomar em convenção. Com ou sem prévias, o fim da reeleição ajudaria a fechar um acordo no PSDB? Não acredito em reforma política, nem em reforma da Lei Eleitoral e da Lei Partidária e, muito menos, em mudança na Constituição para acabar com a reeleição. Acho que as regras da próxima eleição serão as mesmas da passada. Mas pode haver acordo político para acabar com a reeleição, como o que o sr. patrocinou entre o governador José Roberto Arruda (DEM) e o vice Paulo Octávio (DEM) na sucessão do DF? Acordo pode haver. E aí é um problema do PSDB. Não me compete interferir. Entendemos que precisa mudar a forma de administração que o PT vem dando ao País. Queremos melhorar e, por isto, queremos o candidato natural e, para isto, não estamos exigindo posição na chapa, embora tenhamos nomes à vontade. O que o sr. acha de uma chapa "puro-sangue", com Aécio como vice de Serra? O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem sempre lembrado essa hipótese e eu não posso deixar de aceitar a inteligência política de FHC. O lugar de vice na chapa do PSDB não está em aberto para atrair o PMDB? A melhor solução para a vitória é a certeza da recuperação do Brasil, que está mal administrado e não está enfrentando a crise como deveria. O presidente não tomou medidas adequadas na hora oportuna. Mas o povo está satisfeito e nunca houve um presidente com tanta aprovação popular nas pesquisas. Como o sr. explica esta contradição? Esta popularidade vai começar a escassear. Um protesto dos produtores de café em Varginha reuniu 30 mil pessoas e Lula foi vaiado. O desemprego é grande e o dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) está sendo usado para piorar a situação, patrocinando fusões no setor da telefonia. Também há crise na pecuária, na siderurgia e no setor madeireiro. E a oposição tem sido eficaz? Há um erro no foco da oposição, concentrada no Congresso, que hoje não é bem visto pela opinião pública. É preciso partir para a sociedade. A atuação do presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), e do presidente da Fundação Liberdade e Cidadania, deputado José Carlos Aleluia (BA), convocando economistas para apresentar soluções construtivas para a crise, é elogiável. Devemos nos pautar por esse caminho e na fiscalização, acompanhando nos locais este plano de marketing denominado PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), e mostrando o que não sai do papel.

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