RIO - Em meio à retomada do crescimento do número de casos de covid-19, a gestão da saúde foi tema de destaque na estreia do horário eleitoral obrigatório na campanha do segundo turno da eleição municipal no Rio. Tanto o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), candidato à reeleição, quanto o candidato e ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) trataram do tema em seus respectivos programas eleitorais na tarde desta sexta-feira, 20.
Houve diferenças de abordagem. O programa de Crivella tratou diretamente da pandemia. O próprio prefeito apareceu no vídeo para afirmar que “dizem que vem aí uma segunda onda” da covid-19 e para recomendar aos eleitores que não deixem um político que não teve experiência no enfrentamento da pandemia assumir a prefeitura neste momento. Na declaração, Crivella não citou Paes diretamente.
O tom emocional ficou por conta de um trecho editado com cenas de pacientes de covid-19 quando recebiam alta. Muitos choravam e agradeciam por sobreviverem à doença. Na maioria das imagens externas, Crivella apareceu de máscara.
Em outros trechos, o programa de Crivella comparou diretamente as gestões de Paes – que teve dois mandatos, de 2009 a 2017 – com a atual. No discurso em defesa da reeleição, a campanha criticou gastos bilionários em “obras faraônicas”- o ex-prefeito investiu na cidade, para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016- e exaltou supostos investimentos em equipamentos médicos.
Como tem sido recorrente na campanha de reeleição, o programa terminou com imagens do atual prefeito ao lado do presidente Jair Bolsonaro.
Ao tratar da gestão da saúde, o programa de Paes, que encerrou o horário eleitoral da tarde, deixou a pandemia de lado, contrastando com a abordagem de Crivella. Criticou o “abandono” das Clínicas da Família e das unidades de pronto atendimento (UPAs), redes construídas ao longo dos mandatos de Paes, e afirmou que faltam médicos na rede municipal. Prometeu a contratação de mil profissionais de medicina.
Na tela, Paes apareceu prometendo acabar com o “fura-fila” no Sisreg, o Sistema de Centrais de Regulação, que trata da organização da fila de pacientes para o acesso à rede pública de saúde.
Foi uma referência indireta a um escândalo de 2018. Em julho daquele ano, o jornal “O Globo” revelou uma reunião de Crivella com líderes religiosos. Nela, o prefeito teria oferecido facilidades para o agendamento de cirurgias de cataratas e varizes para fiéis, além de assistência a pastores que tivessem problemas de IPTU em seus templos. O registro do discurso de Crivella, sugerindo que os presentes na reunião procurassem a “Márcia”, uma de suas assessoras, para atender as demandas, ficou famoso nas redes sociais.
Em aceno velado aos evangélicos, o programa de Paes começou chamando Crivella de “pai da mentira”, uma referência ao diabo. Logo no discurso de abertura voltado para a câmera, Paes criticou o “despreparo” e a “omissão” de Crivella na prefeitura. Também acusou o prefeito de usar a prefeitura para “favorecer seu grupo religioso”, numa referência à Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Crivella é bispo licenciado da Iurd e sobrinho de seu fundador, o bispo Edir Macedo.
No mesmo discurso de abertura, o candidato pelo DEM agradeceu pelos votos recebidos no primeiro turno. Também prestou homenagem ao Dia da Consciência Negra, celebrado nesta sexta-feira, 20.