Candidatos decepcionam estudantes

Na opinião de quem vota pela primeira vez, Dilma e Serra esqueceram temas relevantes para os jovens

Por Flavia Tavares e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

SÃO PAULO - Há um tom de desalento mesmo entre os jovens que gostam de política e acompanham a campanha atentamente. O diálogo entre os presidenciáveis não inspira esses garotos e garotas, que o consideram agressivo e superficial. Seis estudantes em idade de votar pela primeira vez para presidente, dos colégios Vera Cruz e Augusto Laranja, assistiram ao debate de ontem à noite no Estado e compartilharam suas impressões.

 

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Antes mesmo de o encontro começar, Júlia Araújo, de 17 anos, já lamentava: "Dilma e Serra não discutem quem é o melhor para o Brasil, mas quem é o menos pior". Quando o debate entrou no ar e os candidatos começaram a despejar seus dados e realizações, Alessandro Bigoni, de 18 anos, se irritou. "Eu não consegui anotar e absorver esses números. Não tenho como saber se é verdade."

 

Ao fim do primeiro bloco, o saldo de temas de interesse para esses jovens era baixo. Apenas Paula Queiroz, que quer estudar pedagogia, se empolgou com a discussão sobre ensino profissionalizante. "É um tema importante, sim, mesmo que a gente não vá fazer esse tipo de curso."

 

O tema privatização, levantado por Dilma, foi visto por André Alencar, 17, como uma desculpa para não discutir a educação mais profundamente. "Eles ficam nas minúcias, não entram no plano maior", reclamou. Fillipe Mauro, 17, ironiza uma resposta de Serra: "Parece que, no Brasil, a política se resume a privatização e ao apoio do Collor".

 

Quando os candidatos fugiram das perguntas e voltaram a questões anteriores, Beatriz Martin, 17, suspirou. "Eles não se ouvem, não prestam atenção e não aproveitam nada do que o outro fala." Júlia complementou, afirmando que o diálogo entre os políticos atualmente não deixa espaço para nenhuma concessão, nenhum acordo. A avaliação geral, lá pela metade do debate, era de que Dilma e Serra estavam falando sozinhos, seguindo somente suas próprias pautas. "Se eu estivesse em casa, certamente já teria dormido", disse Paula.

 

Em termos individuais, Fillipe detectou em Dilma Rousseff uma fala claramente dirigida ao Sudeste. "Ela precisa conquistar os votos aqui e está trabalhando para isso." Como ponto negativo, Júlia considerou que Dilma se repetiu muito no tema da privatização e que isso pode até fazer um efeito no eleitorado, "mas fica chato". Do lado positivo, Beatriz notou que, pela primeira vez, viu Dilma admitir um erro no governo Lula e prometer corrigi-lo.

 

O bloco em que jornalistas fizeram perguntas foi o mais elogiado pelos jovens. Mas eles avaliaram que Serra se saiu mal na resposta sobre o caso Paulo Preto. "Ele soou ingênuo e falso ao se fazer vítima", analisou Júlia. "E não foi elucidativo", acrescentou Fillipe. Por outro lado, Serra foi bem avaliado em sua fala sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). "Ele conseguiu elogiar o governo Lula e, ao mesmo tempo, fazer propostas interessantes de reforma da prova", disse André.

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Considerações finais. No final do debate, os seis convidados concordaram que o confronto não foi definitivo e não mudou seu voto. No caso de Júlia, que votou em Marina Silva (PV) no primeiro turno e está indecisa agora, a decepção foi ainda maior. "Me senti rejeitada, ninguém tratou de meio ambiente. E, como jovem, fiquei decepcionada por eles não terem falado de tecnologia."

 

Fillipe estava mais otimista: "Comparando com outros debates, eles estão mais articulados". Paula consentiu, ao considerar que em alguns momentos ambos admitiram qualidades nos projetos do outro. A opinião de Beatriz foi mais racional. "No conteúdo, eles são muito parecidos. Só que o Serra fala melhor do que a Dilma."

 

Alessandro achou Serra "mais suave" em suas reações, mas acredita que os ataques de Dilma foram assertivos. André considera a petista melhor, por valorizar os mais pobres. "Mas fico feliz que os dois tenham um discurso que prioriza o desenvolvimento do Brasil."

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