Campanha em Salvador é marcada por temas étnicos e religiosos

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Por JOSÉ DE JESUS BARRETO
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As questões religiosas e étnicas deram o tom no início das campanhas dos candidatos à prefeitura da capital baiana. Foram encontros, debates, café da manhã e caminhadas de fé na tentativa de demonstrar tolerância, ecumenismo e conquistar votos. O prefeito João Henrique Carneiro, peemedebista evangélico, que luta pela reeleição, teve que receber na terça-feira a ialorixá Mãe Rosa, e prometeu concluir as obras de recuperação do terreiro Oyá Onipó Neto, demolido no final de fevereiro pela prefeitura sob alegação de irregularidade fundiária. Em encontro na sexta-feira passada, promovido pelo Ministério Público Estadual, com a presença de todos os candidatos para debater o tema "A relevância da questão étnico-racial para a gestão pública", João Henrique foi interpelado por Mãe Rosa que lhe cobrou a promessa de reconstrução do templo. "Estou com as imagens dos orixás ainda espalhados pelo chão e o terreiro sem funcionar desde março", disse a mãe-de-santo nesta terça-feira após se reunir com o prefeito. João Henrique garantiu ainda que a questão da localização do terreiro será resolvida com alvará para edificação no local e votação na Câmara do projeto que prevê regularização fundiária das casas de candomblé da cidade. No fim de semana, antes de resolver o impasse com Mãe Rosa, o candidato João Henrique participou de uma "Marcha para Jesus", patrocinada por um templo evangélico do bairro popular do Cabula, quando cantou hinos e fez comício sobre um trio elétrico. QUILOMBO ELEITORAL Já o candidato petista Walter Pinheiro, também evangélico, antes de inaugurar o seu comitê eleitoral no domingo, tomou café da manhã com fiéis e lideranças da Igreja Batista de Nazaré. Apenas um "diálogo inter-religioso sobre cidadania, buscando caminhos para o enfrentamento dos problemas de assistência médica do SUS no município", conforme o candidato. No meio da semana, Pinheiro, ao lado da vice Lídice da Mata (PSB), materialista convicta, encontrou-se com dezenas de padres, freiras e lideranças de pastorais e comunidades eclesiais católicas, no Mosteiro de São Bento, no centro da cidade. O encontro foi promovido pelo deputado petista Yulo Oiticica, no intuito de "unir e quebrar resistências". Pinheiro abraçou freiras, ouviu e deixou o centenário mosteiro satisfeito com a reunião que classificou de "fraterna, positiva e ecumênica". No ato de inauguração do comitê, na entrada de um bairro de população pobre, Pinheiro disse: "Aqui é a casa das mulheres, dos negros, dos excluídos, de todos que são vítimas da violência e da discriminação. Aqui é a nossa trincheira, o nosso quilombo". As questões étnicas e religiosas têm um peso especial em Salvador, cidade que se orgulha de ter a maior população negra fora do continente africano. Mas os movimentos negros reclamam de que aos negros é permitido pelos partidos apenas o posto de vice, nunca a cabeça das chapas. "Eram quatro negros candidatos a cabeça de chapa. Sobrou algum? Nem eu consegui", lamenta o advogado tributarista Edvaldo Brito (PTB), vice na chapa de João Henrique. Edvaldo foi o único negro que ocupou a cadeira de prefeito em Salvador, de agosto de 1978 a abril de 1979, como "biônico", indicado pelo então governador Roberto Santos. Existiam com pré-candidatos, além dele, o secretário estadual de Promoção e Igualdade, Luis Alberto (PT); a vereadora Olívia Santana (PCdoB) e o presidente municipal do PSOL, Luis França. O candidato católico ACM Neto (DEM), em busca de alguma aproximação com o Palácio do Planalto e de um naco dos votos evangélicos e negros, escolheu como vice o bispo Márcio Marinho, da Igreja Universal, a que mais cresce em Salvador, que é negro e deputado pelo PR do vice -presidente José Alencar. Ao lado do ex-governador Paulo Souto, Neto abriu sua campanha com uma visita à Colina Sagrada do Bomfim, onde fica o templo do Senhor do Bomfim, santo milagroso dos baianos, mas o bispo Marinho não compareceu ao ato de fé católica. Também católico, o candidato do PSDB, Antonio Imbassahy parece transitar bem no movediço terreno étnico-religioso baiano: quando prefeito, atendeu com obras alguns terreiros tradicionais da cidade e, no último ano de sua administração, criou a Secretaria de Reparação, pondo na pasta a professora Arany Santana, indicada pelas entidades culturais negras.

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