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Câmara quer desenterrar guerrilha do Araguaia

Por Agencia Estado
Atualização:

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara reuniu nesta quinta-feira geólogos e legistas que tentarão localizar as ossadas dos militantes do PC do B, mortos na guerrilha do Araguaia. O conflito, ocorrido no Sul do Pará entre 1972 e 1975, representou a maior operação das Forças Armadas desde a Segunda Guerra Mundial, com total de 61 guerrilheiros desaparecidos. "As famílias têm direito à sepultura", alegou o deputado Luiz Greenhalgh (PT-SP), que integra a comissão. Segundo ele, o governo já indenizou os parentes dos mortos na guerrilha. O que falta resolver é a "verdade histórica". "Podemos ter sucesso na ação, mas devemos levar em conta que se passaram quase 30 anos do início do conflito." Os deputados ainda não definiram os locais que serão rastreados. Cemitérios clandestinos já localizados em áreas recentemente descobertas estão na mira do grupo de legistas e geólogos. Em 1980, 1991 e 1996, comitivas de familiares e autoridades tentaram encontrar ossadas na região. Maria Lúcia Petit, morta em 1972, é a única guerrilheira do Araguaia que teve o cadáver identificado. A ossada foi encontrada no cemitério de Xambioá, em 1991. Outras ossadas aguardam exames nas dependências da Polícia Federal, em Brasília, e na Universidade de São Paulo (USP). Greenhalgh, advogado de famílias de desaparecidos, estima que o trabalho da equipe de legistas levará, no mínimo, uma semana. O ministro da Defesa, Geraldo Quintão, ofereceu um avião e um helicóptero para a viagem dos técnicos. Em busca de apoio de outros órgãos públicos, a Comissão de Direitos Humanos espera remover as ossadas para Brasília. O guerrilheiro Osvaldo Orlando Costa, o Osvaldão, foi um dos líderes do movimento rural que o grupo de pesquisadores tentará localizar no município de Xambioá. Osvaldão teve grande influência entre os colegas de guerrilha e moradores do Araguaia. Formado em engenharia de minas na Europa, o guerrilheiro teria morrido nas últimas semanas do conflito com um tiro nas costas. Pesquisadores do Laboratório de Geofísica Aplicada da Universidade de Brasília explicaram nesta quinta-feira aos integrantes da Comissão de Direitos Humanos o funcionamento do equipamento que será usado na localização dos corpos. Movido por bateria, o radar Pulse Ekkoy, com antena de 100 Mhz, tem condições de mapear o solo de um campo de futebol, por exemplo, em até dois dias, assegurou o professor Augusto Cesar Bittencourt. O professor Roberto Alexandre Vitória de Moraes explica que o GPR, como o aparelho é chamado, reconhece alterações no solo por meio de sinais eletromagnéticos. É possível identificar pedras e outros objetos enterrados a até 15 metros. O GPR é utilizado na Geofísica Forense, uma área ligada à Medicina Legal. Mas os geólogos deixam claro que não pretendem alimentar grandes expectativas em relação ao resultado do trabalho, que requer tempo e paciência.

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