Câmara investiga envolvimento de deputados em fraudes

A investigação do esquema resultou na prisão, pela Polícia Federal, na operação apelidada de "sanguessuga", de 48 pessoas

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), abriu, nesta segunda-feira, investigação para apurar o suposto envolvimento de deputados e de servidores da Casa no desvio de dinheiro público na compra superfaturada de ambulâncias para diversos municípios do País. A investigação do esquema resultou na prisão, pela Polícia Federal, na operação apelidada de "sanguessuga", de 48 pessoas entre ex-deputados, assessores parlamentares, empresários e servidores do governo federal na semana passada. O corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), começa a analisar nesta terça-feira os documentos encaminhados pela Justiça de Mato Grosso e, nesta segunda-feira, a diretoria-geral da Casa abriu processo contra os servidores acusados. Triagem Nos documentos encaminhados ao corregedor estão nomes de 53 deputados e o do deputado cassado Ronivon Santiago (PP-AC), preso pela PF. Nogueira deverá fazer uma triagem na lista, separando os deputados contra os quais há algum indício de suposto envolvimento no esquema dos sanguessugas dos parlamentares que tiveram apenas os seus nomes citados. "Eu recebi manifestações de deputados e alguns deles inclusive afirmaram que nem emendas fizeram para ambulâncias e cujos nomes apareceram no documento. Mas acho que o deputado Ciro Nogueira e a Corregedoria têm todas as condições de examinar e fazer Justiça. A corregedoria recebe e examina documentos desta natureza porque é sua atribuição regimental", afirmou Aldo Rebelo. Nogueira deverá analisar também a possibilidade de requerer a degravação dos diálogos registrados pela PF durante as investigações, já que a Justiça não enviou as fitas nem o texto completo das gravações que envolvem os deputados, mas apenas trechos das conversas obtidas com autorização judicial. Há três integrantes da Mesa na lista encaminhada pela Justiça. "A Mesa da Câmara, como todos os demais deputados está subordinada à hierarquia dos órgãos da Casa, para tratar deste tipo de denúncia que é a Corregedoria", afirmou Aldo, argumentando que os integrantes da Mesa são subordinados às mesmas regras impostas aos demais deputados e que o tratamento será o mesmo. Impedimento Nesta segunda-feira, o terceiro secretário, deputado Eduardo Gomes (PSDB-TO), citado na lista, disse que vai se declarar impedido de participar de reuniões da Mesa nas quais esse assunto for debatido. Ele concordou com a atitude de Aldo de enviar os documentos para análise do corregedor. Eduardo Gomes fez um levantamento das emendas que apresentou ao Orçamento e afirmou que, durante todo o seu mandato, fez sete emendas destinando recursos para compra de ambulâncias que foram adquiridas pelos prefeitos em cinco empresas diferentes das que estão envolvidas nas investigações da PF. "É o momento de dar satisfação e estabelecer a realidade", afirmou. O segundo secretário da Mesa, o deputado Nilton Capixaba (PTB-RO), presidiu por quase uma hora a sessão da Câmara. Em um dos momentos, Capixaba teve de ouvir o deputado Luiz Couto (PT-PB) pregar a punição dos envolvidos na Operação Sanguessuga e condenar a impunidade. O assessor de Capixaba, Francisco Machado Filho, foi preso na operação da PF. De acordo com as investigações da PF, o assessor de Capixaba era um braço do esquema na Câmara. Diálogos gravados pela PF com autorização judicial revelam o assessor de Capixaba e o empresário apontado como um dos chefes do esquema sugerindo o assassinato do repórter do Correio Braziliense que investigava o esquema de compra superfaturada de ambulâncias. PF e Gestapo Da tribuna, o deputado José Divino (PMR-RJ) defendeu a funcionária do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino, presa pela PF. Ela foi indicada para o cargo pela bancada do PMDB em agosto do ano passado, quando o ministro era Saraiva Felipe. A funcionária já tinha trabalhado como secretária parlamentar no gabinete de José Divino e, segundo o deputado, o ministro a conhecia há muitos anos. "Se ela já vinha sendo investigada havia anos porque a Abin permitiu que ela fosse contratada no ministério?", questionou o deputado, referindo à Agência Brasileira de Informação. O deputado acusou o governo de usar a PF como a Gestapo no governo nazista. "Para o governo, o importante é desviar o foco e não se a pessoa está envolvida ou não. É uma postura nazista, como fazia Hitler", afirmou José Divino.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.