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Câmara Municipal de São Paulo resgata memórias de ex-vereadores

Projeto relembra histórias da época da ditadura e momentos marcantes da cidade, como a CPI dos fiscais

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Por Adriana Ferraz
Atualização:

Os 55 vereadores que hoje formam a Câmara Municipal de São Paulo podem discordar ideologicamente, mas têm, em comum, a certeza de que a eleição lhes assegurou o direito de tomar posse e a garantia do término do mandato. A história, porém, mostra que nem sempre foi assim. Entre 1937 e 1969, as ditaduras militar e de Getúlio Vargas, assim como a perseguição aos comunistas, promoveram a cassação de 42 parlamentares e limitaram a atuação de tantos outros.

Esse passado agora é resgatado pelo programa Vossa Excelência, a Memória, que dá voz a ex-vereadores e relata fatos que marcaram a política na capital. Lançado no ano passado, o projeto já ouviu 17 nomes que passaram pela Casa em momentos diferentes.

Entre 1937 e 1969, as ditaduras militar e de Getúlio Vargas, assim como a perseguição aos comunistas, promoveram a cassação de 42 parlamentares e limitaram a atuação de tantos outros. Foto: André Bueno/CMSP

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Com apenas 28 anos, o engenheiro João Carlos Meirelles, por exemplo, ocupou pela primeira vez o cargo em 1964, o ano do golpe militar. “Logo depois de assumir, ficou intolerável a ditadura me ouvir. Fazia críticas duras na tribuna e, por isso, fui preso três meses depois da posse, com minha esposa grávida de seis meses”, afirmou.

Ex-presidente da Câmara, Paulo Soares Cintra dividiu com Meirelles a luta democrática, mas foi obrigado pelos militares a presidir uma comissão de julgamento dos próprios funcionários da Casa que, eventualmente, se posicionassem contra o regime. “Foi muito complicado, a pressão era permanente”, disse.

As recordações são relatadas à jornalista Viviane Cezarino no plenário do Palácio Anchieta e veiculadas pela Rede Câmara SP. Com o apoio da Secretaria de Documentação, leis aprovadas durante os períodos citados também se tornam temas das conversas, como o projeto que criou a Rua Vladimir Herzog, em homenagem ao jornalista assassinado pelos militares em 1975.

Placa

"O tema era tabu. Vivia-se um clima de muita tensão, mas tinha me comprometido a colocar o meu mandato a serviço da democracia. O prefeito vetou, mas nós derrubamos o veto. E, depois, ainda tive de mandar fazer a placa porque a Prefeitura não faria. Foi assim que a rua onde ficava a TV Cultura passou a se chamar Rua Vladimir Herzog”, relatou o ex-vereador Flávio Bierrenbach, que legislou entre 1977 e 1979 e foi autor da iniciativa.

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As histórias relativas ao regime militar não são contadas só por quem atuou politicamente na época, mas também por vereadores que chegaram depois. Caso de Tereza Lajolo, que relatou a CPI criada após a descoberta da Vala de Perus e os 1.049 sacos com ossos humanos que havia lá dentro.

“Levamos o maior susto, ninguém sabia da existência da Vala de Perus. Quando a (então prefeita Luiza) Erundina foi informada, ela mandou cavucar, e nós investigamos”, disse Tereza, que teve como colegas nomes como Aldo Rebelo, primeiro “comunista” a virar vereador.

“Aquele mandato foi uma vitória para mim e para o partido (PCdoB)”, afirmou, em referência à perseguição que as siglas classificadas como comunistas sofreram durante e depois da ditadura militar.

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Já o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo relatou como teve a carreira alavancada por uma decisão tomada na Câmara: a criação de uma CPI para apurar corrupção entre fiscais da Prefeitura. “Aquilo marcou minha vida porque foi uma CPI que passou a ser acompanhada pelas pessoas como uma novela. E não acabou em pizza.”

Idealizadora do projeto juntamente com o também jornalista Leandro Martins, Viviane considera que os bastidores das costuras políticas podem revelar muita coisa depois que o tempo passa. “É a história que está nas entrelinhas dos acordos políticos que buscamos mostrar e guardar para futuras análises.”

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