Caingangues bloqueiam estrada para exigir terras

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Por Agencia Estado
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Um grupo de 60 índios caingangues mantém bloqueada desde esta segunda-feira a estrada vicinal que liga os municípios de Faxinalzinho e Erval Grande, no Rio Grande do Sul. Com a manifestação, eles querem pressionar o governo federal a acelerar o processo de reconhecimento de uma reserva indígena. Isso exigiria indenização aos agricultores que moram no local para posterior entrega das terras à tribo. Como os índios prometem manter a interrupção do tráfego, a Prefeitura de Faxinalzinho vai recorrer à Justiça para desobstruir a estrada, informa o chefe de gabinete Marco Aurélio Debtil, preocupado com alguns agricultores que querem abrir caminho à força. Mais do que prejudicar o transporte escolar e o escoamento da safra de soja, a manifestação volta a expor a situação de tensão entre agricultores e índios que disputam 37 mil hectares em 19 municípios da região do Alto Uruguai. O caso de Faxinalzinho é o mais dramático porque envolve a entrega de 14 mil dos 14,4 mil hectares do território municipal aos índios. A terra seria incorporada à reserva de Votouro, onde vivem 1,4 mil índios. O grupo que bloqueou a estrada preferiu sair da reserva atual para tentar apressar o processo de criação da nova área e acampou há mais de um ano à beira da estrada Faxinalzinho-Erval Grande. A Fundação Nacional do Índio (Funai) dispõe de um levantamento preliminar que caracteriza a terra reivindicada pelos caingangues como indígena. ?Mas falta a publicação do relatório no Diário Oficial e a criação de um grupo de trabalho para fazer o levantamento fundiário, passos que antecedem a indenização dos colonos e a demarcação da área?, explica o administrador executivo regional da Funai em Passo Fundo, Neri Ribeiro. Se a reivindicação dos caingangues for atendida, sobrará para Faxinalzinho apenas o perímetro urbano do município. Preocupados com a perspectiva, os moradores da cidade também já bloquearam o tráfego. Em agosto do ano passado, 500 pessoas fecharam a estrada que liga Benjamim Constant do Sul ao município e impediram a passagem de índios pela via. A disputa por terra entre índios e colonos é antiga no Rio Grande do Sul. Entre 1911 e 1918 foram demarcados 91,6 mil hectares para reservas indígenas. Ao longo do século, 51,5 mil hectares passaram para o domínio dos brancos por invasões ou projetos de colonização dos governos estaduais. A Constituição de 1988 determinou a volta aos limites do início do século. E os índios começaram a retomar terras que haviam sido de seus ancestrais, o que gerou uma série de processos de identificação de áreas e de desocupação e indenização aos agricultores. Entre diversos outros, Faxinalzinho é apenas o foco de tensão do momento.

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