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Cacique tinha faro aguçado e gosto especial pelo poder

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Por Redação
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ACM gostava tanto do poder que seu faro político parecia antecipar-lhe com precisão as mudanças de rumo para continuar mandando. Era um dos esteios do apoio político ao governo João Figueiredo, em 1984, mas repentinamente inverteu seu rumo. Após uma conversa aberta, numa madrugada de outubro daquele ano, com o então candidato Tancredo Neves, virou o leme, abandonou o PDS, partido do regime militar e deu, com a adesão do seu grupo, a certeza matemática da vitória oposicionista no colégio eleitoral. Diria depois que ali mudou a História do Brasil. Pouco depois, quando o então ministro da Aeronáutica, Délio Jardim de Mattos, num discurso no aeroporto de Salvador, chamou de traidores os que se bandeavam para a oposição, ACM respondeu dois tons acima, dizendo que traidores e corruptos eram "os que apoiavam um corrupto para a Presidência" (o candidato do governo era Paulo Maluf). A reação foi a senha. Ele, José Sarney, Aureliano Chaves e Marco Maciel perderam o medo dos militares: saíram do PDS e foram fundar o PFL. A recompensa veio logo: nomeado ministro das Comunicações de Tancredo, continuou mandando mais do que antes. Em 1986, sofreria a primeira grande derrota eleitoral, quando seu candidato, Josaphat Marinho, perdeu o governo da Bahia para Waldir Pires, então no PMDB. Renovado, disputou, ele mesmo, o governo da Bahia em 1990 e ganhou, desta vez em eleições diretas. Em seguida, tornou-se arauto do governo Collor, mas rompeu com ele na desgraça. No governo Itamar Franco, foi alvejado pelo episódio da "pasta rosa". Quando Itamar nomeou ministro seu inimigo Jutahy Júnior, ACM gritou que tinha um dossiê de provas de corrupção no governo. Itamar pediu-lhe o dossiê. À frente de uma tropa, ACM atravessou a Praça dos Três Poderes e, ao entrar no gabinete, encontrou toda a imprensa lá dentro. Pediu que os jornalistas saíssem, mas Itamar objetou e sugeriu que mostrasse o dossiê à vista da imprensa. ACM não tinha nenhum dossiê consistente. Deu uma desculpa e se foi. Em 1994, foi eleito senador e acabou na presidência do Senado. Fortíssimo no primeiro governo FHC, ele pintou e bordou com o governo para que fosse suspensa a intervenção do governo no Banco Econômico e para aprovar a sua venda ao Banco Excel. Xingou o presidente do Banco Central, falou em novos dossiês e comandou novamente uma blitzkrieg pela praça até o palácio. Fernando Henrique cedeu: o Excel comprou o Econômico pelo valor simbólico de R$ 1.

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