Burocracia atrapalha tratamento pioneiro de diabetes

Por Agencia Estado
Atualização:

Cinco meses depois de reivindicar e conseguir do Ministério da Saúde a liberação de uma enzima importada fundamental para o transplante de ilhotas pancreáticas, tratamento inovador para portadores de diabetes tipo 1, a administradora baiana Telma Mércia Rosário de Almeida de 46 anos, primeira brasileira a se submeter à nova técnica, desenvolvida em caráter experimental no País pelo Hospital Albert Einstein de São Paulo, ainda não conseguiu a cura e corre o risco de precisar iniciar novamente o programa de transplantes. Embora a enzima colagenase tenha sido liberada pela alfândega, os sucessivos atrasos provocados pela burocracia das autoridades da saúde estão impedindo que Telma complete o tratamento e pode jogar por terra o que já foi feito. Ele precisa realizar pelo menos quatro transplantes de ilhotas pancreáticas (células responsáveis pela produção de insulina) para recuperar a capacidade de estabilizar os níveis de açúcar no sangue. Recebeu o primeiro lote de ilhotas (extraídas de pâncreas de cadáveres) em dezembro de 2002, o segundo em fevereiro deste ano e o terceiro em abril. "Fiquei 2/3 curada, mas ainda faltava a última", explicou. O quarto transplante, que fecharia o tratamento, foi realizado no inicio de novembro. Contudo, recebeu uma quantidade insuficiente de ilhotas e aparentemente de má qualidade, não obtendo a cura total. Ela precisa de uma quinta infusão e sofre com os sucessivos atrasos e problemas no programa. Recentemente enviou uma carta ao Ministério da Saúde pedindo que seja autorizada o quinto transplante, que não estava previsto no programa, e aguarda angustiada uma resposta em Salvador. A nova técnica pode abrir uma porta gigantesca para o tratamento do diabetes tipo 1 no Brasil, beneficiando cerca de 15 milhões de pessoas. No entanto, os outros 17 pacientes com o mesmo problema de Telma, cadastrados pelo Ministério da Saúde, que esperam na fila para iniciar o tratamento só podem faze-lo após a conclusão do pioneiro, conforme determinação do Conselho Nacional de Ética em Pesquisas - Conep, que demorou um ano para autorizar os transplantes de ilhotas pancreáticas no Brasil. Criado no Canadá, o transplante de ilhotas já está sendo utilizada em dez países com amplo sucesso. Os pacientes conseguem rapidamente recuperar a capacidade de produzir insulina com a estabilização dos níveis de açúcar no sangue. Assim terminam os freqüentes choques de hipo e hiperglicemia que os pacientes de diabetes 1 sofrem e eles passam a ter uma vida normal. Esse é o sonho de Telma cujo calvário provocado pela doença já dura 27 anos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.