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BRICs vão discutir proposta brasileira de comércio sem dólar

No Cazaquistão, Lula afirma que ministros e especialistas estudarão assunto para apresentar sugestões.

Por Silvia Salek
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vão começar a discutir com seus pares nos outros três países que compõem o grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), a ideia de substituir o dólar nas trocas comerciais bilaterais. "O que nós decidimos é que um conjunto de especialistas junto com os presidentes dos Bancos Centrais e ministros da Economia vão começar a discutir isso para nos apresentar sugestões", disse Lula um dia após a primeira cúpula dos BRICs. "Esse é um passo extremamente importante", disse, acrescentando que essa é uma discussão "que leva anos". A ideia é tentar reproduzir o que começou a ser feito com a Argentina. O comércio em moeda local entre os dois parceiros do Mercosul representa apenas cerca de 5% do volume total, mas "é um bom começo", nas palavras do presidente. Sem referência A declaração final da cúpula dos BRICs, na terça-feira, em Ecaterimburgo, na Rússia, não faz referência explícita a nenhuma das iniciativas relacionadas à busca de alternativas ao dólar como moeda de reserva ou usada em trocas comerciais bilaterais. Destaca apenas a necessidade de um sistema monetário internacional estável, previsível e diversificado. Às vésperas da reunião, referências do presidente russo e do presidente do Banco Central chinês a essa possibilidade causaram grande repercussão. A China é o pais que mais tem reservas em dólar e qualquer indicação de um possível movimento na denominação dessas reservas é suficiente para gerar apreensão entre investidores. "Tem países que estão propondo a criação de uma moeda nova, tem países que estão propondo uma cesta de moedas. No caso do Brasil, nós temos uma experiência prática", disse Lula, referindo-se aos temas mencionados na reunião. "Vamos ver se há entendimento para a gente começar a fazer a experiência de trocas nas moedas de cada país sem precisar comprar dólar para fazer nosso fluxo comercial", acrescentou. Reformas Lula voltou a falar sobre iniciativa conjunta dos países emergentes dos BRICs em reformar as instituições internacionais, como o FMI, o Banco Mundial e Organização das Nações Unidas. "Todo mundo sabe que o FMI foi criado para resolver problemas do mundo em desenvolvimento. E hoje a crise está no mundo desenvolvido. Parece que o FMI e o Banco Mundial não têm as soluções que tinham quando a crise era mexicana, brasileira, russa", alfinetou. "Queremos fortalecer essas instituições, mas, ao mesmo tempo, democratizá-las", concluiu. Segundo Lula, o pior que pode acontecer é a atual crise passar sem que as reformas que ele diz considerar necessárias para evitar uma próxima tenham sido adotadas. "O que pode acontecer de pior no mundo é essa crise terminar sem que a gente tenha feito as mudanças para que não haja mais crise. Certamente, tem país que quer que tudo fique como está. Mas isso não pode, o sistema financeiro não pode ficar por conta da especulação no mercado futuro, aumentando preço de petróleo, preço de commodity. Isso não é possível. O sistema financeiro precisa financiar a produção", concluiu antes de partir para o Brasil. O presidente classificou ainda o resultado da reunião dos BRICs de extraordinário. "Eu saio muito otimista dessa reunião", disse Lula. O progresso nos temas destacados pelos quatro líderes poderão ser avaliados em uma segunda cúpula, prevista para ocorrer no Brasil em 2010. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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