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Brasileiros são mantidos como escravos na Irlanda

Por Agencia Estado
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Neusa da Silva Resende, de 42 anos, tinha certeza de que mudaria sua vida ao aceitar um convite para trabalhar na Irlanda, mas nunca imaginou que pudesse fazer história em um país estrangeiro. Mineira, ela virou celebridade em Dublin, após ganhar na Justiça a causa trabalhista conhecida no país como o caso dos ?Brazilian?s slaves? (escravos brasileiros). Depois de três meses sem receber nem um centavo, passar fome e viver sob a ameaça de despejo ? ela, duas irmãs e o cunhado ? a Suprema Corte irlandesa bateu o martelo no dia 29 de outubro: os brasileiros têm direito a receber 50 mil da At Hand Cleaning Services, empresa de limpeza. O caso ganhou a primeira página dos principais jornais e comoveu a opinião pública irlandesa. Agenciada pela brasileira Marta McGarvy, casada com um irlandês, Neusa desembarcou em Dublin em maio de 2001 para trabalhar na At Hand, da empresária Samantha Hutton. Chegou certa de que receberia 1.200 libras por mês, para trabalhar como faxineira. Na época, a moeda ainda não era o euro. Sem entender uma palavra de inglês, viu-se sozinha num país estrangeiro, com diferentes costumes. ?Quando cheguei não sabia nem discernir as placas de trânsito?, confessa. No começo, teve de distribuir planfletos nas ruas. A empresa havia sido aberta naquela semana, portanto era preciso propaganda. Ilegais Mesmo recebendo apenas 155 libras por semana para trabalhar todos os dias, com 12 horas de jornada, ela convenceu suas irmãs e o cunhado a irem também. Meses se passaram e a situacão só piorava. Marta sumiu e não havia mais quem fizesse o contato entre os faxineiros e a dona da empresa. Os brasileiros estavam três meses sem receber dinheiro, comendo mal e com medo de ficar sem ter onde morar. E o tempo de permanência na Irlanda havia expirado. Estavam ilegais. Ao tomar conhecimento da história, uma vizinha os encaminhou a uma advogada. O pouco que conseguiram transmitir foi o suficiente para que pusessem em contato com o padre Pat McNamara, que morou no Brasil. ?Quando soube de tudo, custei a acreditar?, conta McNamara. Daí em diante, bastou juntarem provas e abrirem o processo. Do desespero de não ter o que comer, Neusa e os demais brasileiros passaram a ser reconhecidos nas ruas. ?Agora, as pessoas me param para tirar foto no shopping e me pagam cerveja no pub?, conta . Entre manifestações de carinho, houve doações de dinheiro e um empresário que lhes ofereceu emprego. Eles toparam. Neusa e o cunhado, Ellis Pereira da Silva, chegam ao Brasil hoje. Suas irmãs voltaram antes. Mas já têm o bilhete para voltar. Com o emprego garantido, eles pretendem arejar a cabeça no Brasil e regularizar a situação na Irlanda. O sonho de fazer fortuna terá novo capítulo a partir de 19 de janeiro, dia em que eles recomeçam a vida na Europa.

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