Brasileiro vítima de xenofobia nos EUA chega ao Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

Sete meses e meio nos Estados Unidos foram suficientes para o brasileiro Hermes Barbosa de Lima conhecer várias faces do povo norte-americano. Há uma semana, a receptividade e a hospitalidade de muitos deram lugar à violência e à intolerância de poucos. Lima desembarcou hoje, em São Paulo, com um braço e o nariz quebrados além de inúmeros hematomas. É o resultado da agressão xenófoba que o jovem de 23 anos, confundido com um imigrante árabe, sofreu um dia depois dos atentados contra Nova York e Washington, em 11 de setembro. "Eles não falaram nada, já chegaram batendo", conta Lima. No momento da agressão, o brasileiro tentava ligar para a mãe, que mora em Vila Velha, no Espírito Santo. Queria dizer que estava tudo bem, até então. Antes de a ligação ser completada, Lima levou o primeiro soco, na nuca. Caiu e, quando levantou, viu o único agressor do qual lembra a face. "Olhei para ele e levei outro soco, no rosto", afirma. Lima tentou dizer que era brasileiro, não árabe. Não adiantou. O grupo continuou batendo e chutando, por vários minutos. "Parece que durou uma eternidade." Até a polícia chegar ao local, outra demora angustiante: 25 minutos. "Foi absurdo (o tratamento dado pelos policiais)", reclama Lima. "Eles foram muito secos." O brasileiro estava há uma semana em Bridgeport, no Estado de Connecticut, trabalhando como auxiliar de garçom. Ele costumava passar pelo local da agressão, pois em frente do telefone público há um posto de gasolina com loja de conveniência, onde fazia compras. "É um local iluminado, não tinha perigo", descreve. Embora não tenha pensado em pedir indenização pela agressão física, Lima não descarta a possibilidade, desde que possa fazer isso do Brasil. Um dia depois do ocorrido, ele saiu da casa do amigo que o acolheu e voltou para Nova York, onde havia morado por pouco mais de um mês. Lima foi ao Consulado-Geral do Brasil na cidade e, três dias depois, na segunda-feira, embarcava de volta para o País, de Nova Jersey. No avião, repleto de brasileiros querendo voltar para casa, era possível sentir o clima pesado, de quem viveu cenas de horror na semana anterior. Apesar da agressão, Lima pensa em voltar aos Estados Unidos, provavelmente no ano que vem. Mas será difícil não se lembrar da quarta-feira, 12 de setembro. A recordação que ele prefere ter dos últimos sete meses e meio no entanto, é a da hospitalidade dos norte-americanos e da chance de juntar dinheiro, para voltar e comprar uma casa. "Gosto dos Estados Unidos e eles (norte-americanos) adoram os brasileiros. O que ocorreu comigo foi um caso em um milhão."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.