PUBLICIDADE

Brasileiro confia mais em cientistas e menos no governo, diz pesquisa

‘Barômetro da Confiança de 2022’, levantamento realizado pela agência Edelman, ouviu a opinião de 36 mil pessoas em 28 países, entre 1º e 24 de novembro de 2021

Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla
Atualização:

Cerca de um terço dos brasileiros vê o governo como instituição confiável. O dado, registrado no Barômetro da Confiança de 2022, realizado pela Edelman, agência global de comunicação, aponta piora em um indicador que, no Brasil, já estava baixo. A confiança em cientistas cresceu e, no Brasil, é mais alta do que na média mundial. No País, 81% dos entrevistados confiam nos cientistas. No mundo, 75%. Já as autoridades governamentais inspiram confiança em 26% dos brasileiros. No mundo, em 42%.

Com a credibilidade das lideranças políticas e da mídia desafiada no País, a população brasileira vê como “confiáveis” apenas as empresas e, desta vez, as organizações não governamentais. O levantamento anual foi feito com base em mais de 36 mil entrevistas on line em 28 países, entre 1.º e 24 de novembro de 2021. Foram cerca de 1.150 entrevistados em cada país analisado.

81% dos brasileiros consultados no Barômetro da Confiança de 2022 confiam nos cientistas. Foto: Getty Images

PUBLICIDADE

Dos brasileiros ouvidos, 34% veem o governo como “confiável”, atrás da mídia (47%), ONGs (60%) e empresas (64%). Houve queda na avaliação de governo (cinco pontos) e mídia (um ponto) e melhora na confiança depositada em empresas (três pontos) e ONGs (quatro pontos), na comparação com a pesquisa divulgada no ano passado.

“A pandemia intensificou os medos. Ela trouxe o medo do desemprego, o medo da morte, o medo da contaminação. A instituição governo não teve a capacidade de atender a sociedade, no sentido de tranquilizá-la”, afirma Ana Julião, gerente-geral da Edelman Brasil. “A partir do momento que esse nível de confiança no governo cai, aumenta a demanda e aumenta o nível de confiança em relação às empresas e ao terceiro setor, que passam a ocupar esse lugar de provedores de bem-estar para a sociedade de uma maneira geral”, diz a especialista.

Entre as categorias analisadas, a credibilidade do governo entre os brasileiros é a mais distante da média global. O Brasil difere em no máximo três pontos porcentuais do panorama mundial quando o assunto é a avaliação da mídia, empresas ou ONGs. Quando o assunto é governo, no entanto, a avaliação que os brasileiros fazem é 18 pontos porcentuais mais baixa do que os dados globais. No mundo, 52% confiam no governo.

População vê como ONGs como organizações confiáveis, aponta estudo

No levantamento deste ano, a avaliação da sociedade brasileira sobre as ONGs deixou a classificação de neutralidade (quando de 50% a 59% dos entrevistados se dizem confiantes) e entrou no campo da confiança (60%).

Publicidade

“Há dois anos as empresas saíram muito à frente no combate à pandemia e ajudaram a sociedade a passar por esseproblema. E elas foram buscar muita parceria com o terceiro setor, que certamente navega com muito mais facilidade nessas questões”, afirmou Ana Julião.

A categoria “mídia” engloba quatro itens: ferramentas de busca, mídia tradicional, mídia própria e mídias sociais. Apesar de as quatro estarem com confiança em queda, o que puxa o indicador para baixo é a credibilidade das redes sociais – única das quatro que se enquadra na categoria de desconfiança.

A preocupação com notícias falsas bateu recordes no mundo. Na média, 76% dos entrevistados vê a disseminação de desinformação como um motivo para se preocupar. No Brasil, 81% veem como um problema.

O estudo também confirmou que consumidores, investidores e empregados esperam que as empresas com as quais se relacionam – e os presidentes destas empresas – tomem a dianteira na discussão de questões sociais relevantes e na formulação de políticas públicas. No Brasil, a maioria dos entrevistados compra (63%), trabalha (58%) e investe (60%) em empresas alinhadas com suas crenças e valores.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

“As pessoas não apenas olham para as marcas, para as empresas, mas para as pessoas que estão liderando essas empresas, cobrando dessas pessoas um posicionamento claro”, afirma Ana Julião. O movimento de cobrança das empresas e lideranças empresariais por engajamento em questões sociais já era percebido em levantamentos anteriores à pandemia, mas se intensificou nos últimos anos. Enquanto só 43% veem CEOs, de uma maneira geral, como lideranças confiáveis, o número cresce para 65% quando a pergunta é sobre o CEO da empresa onde o entrevistado trabalha. Ana Julião explica que a proximidade com a liderança aumenta a sensação de confiança.

Entre os entrevistados, 78% esperam que os líderes das empresas estejam à frente da discussão sobre políticas públicas e posicionamento sobre temas caros à sociedade. Isso não significa apoio ao envolvimento direto na política partidária: só 39% dos entrevistados no Brasil acham que os CEOs devem se envolver nas discussões sobre quem deve ser o próximo presidente.

“Lideranças das empresas privadas do EUA, por exemplo, se posicionam com muito mais protagonismo. É uma coisa que não acontece no Brasil, talvez pelo fato de a nossa economia ser muito mais dependente, as lideranças empresariais temem o conflito, temem o posicionamento”, afirma a gerente-geral da Edelman Brasil.

Publicidade

As entrevistas da Edelman foram realizadas online, com cerca de 1.150 respondentes em cada país analisado.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.