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Brasileiro completa ensino médio sem dominar a escrita

Por Agencia Estado
Atualização:

Ao fim do ensino médio, o estudante brasileiro ainda não domina plenamente a gramática, nem a língua escrita. Por causa dessa deficiência, ele tem dificuldade de compreender um texto. Essa é uma das conclusões a que se chega com base no desempenho de 1,6 milhão de jovens que fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2001, cujos resultados foram apresentados pelo ministro da Educação, Paulo Renato Souza. Em uma escala de 0 a 100, os alunos fizeram, em média, 40,5 pontos na prova objetiva, composta por 63 questões de múltipla escolha. Na redação, conseguiram 52,5 pontos. Segundo a escala de classificação do Enem, essas notas correspondem a um desempenho "regular a bom". Essas médias estão um pouco abaixo das do ano passado: 51,8 pontos na prova objetiva e 60,8 na redação. Mas a diferença não significa que a escola piorou, explica o ministro. Ela reflete o aumento de 316% do número de inscritos e a grande participação dos alunos da rede pública (66% do total) no exame. É portanto, um retrato mais fiel do egresso do ensino médio - inclusive, porque 1,2 milhão dos inscritos está concluindo a escolaridade básica. "A prova documenta o que já sabíamos. Ratifica que há um problema sério de defasagem entre idade e série e de compreensão de leitura", afirma o ministro Paulo Renato, lembrando que os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), divulgados ontem, levam a conclusões parecidas. "Estamos botando a nu a realidade educacional brasileira, que é a realidade social do País. Mas a única saída para resolver o problema da exclusão social é continuar a investir em educação e nas políticas da melhoria da qualidade e de estímulo à leitura na escola", complementou. A diferença de desempenho dos alunos nas questões ajuda a enxergar quais são as suas deficiências de aprendizagem. A questão que teve maior índice de acerto (83%) pede para que os estudantes expliquem por que o número de filhos por mulher está diminuindo no Brasil. Para acertá-la, bastava identificar corretamente os fatores descritos nas cinco alternativas de resposta. Já a questão 58, que é bem mais complexa, o índice de acerto foi de apenas 7%. Ela pedia para os alunos relacionarem o conceito de produtividade com informações sobre volume de produção e a área plantada de uma determinada cooperativa de produtores de algodão. Na redação (Desenvolvimento e preservação ambiental: como conciliar os interesses em conflito?), os alunos conseguiram, segundo o relatório do Enem, compreender o tema, mas tiveram dificuldade de transpor as idéias que têm sobre o assunto em um texto. Perfil Até 2000, quem fazia o Enem era o aluno clássico que pretende prestar vestibular, de classe média e média baixa, segundo a presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Maria Helena Guimarães de Castro. Agora, o perfil é mais heterogêneo. Pelo menos 60% dos inscritos têm renda familiar inferior a cinco salários mínimos. Além disso, uma grande proporção deles trabalha e estuda. E esse "aluno clássico" da rede pública, conforme define Maria Helena, acaba ficando em desvantagem em relação aos colegas da rede particular. Na prova objetiva, 67,6% dos jovens que só estudaram em escolas públicas estão na faixa "insuficiente a regular", enquanto 60,8% dos estudantes das escolas particulares tiveram nota entre "regular e bom". Na redação, porém, a discrepância é menor: 68,8% dos alunos das escolas públicas ficaram na faixa de regular a bom, ante a 66,7% dos da rede particular. As escolas privadas, porém, destacam-se e no faixa de bom a excelente: 25,7% dos alunos dessa rede ficaram nesse nível, ante a 7,3% da rede pública.

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