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Brasileiras não confiam em mulheres no poder

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Por Agencia Estado
Atualização:

Um terço das brasileiras acredita que as mulheres não estão preparadas para governar o País. A informação é parte do mais recente levantamento sobre a cultura política feminina, concluído em outubro e divulgado hoje pela Fundação Perseu Abramo, entidade ligada ao PT, durante o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Num universo de 2.502 entrevistadas em 187 municípios de 24 Estados, 36% indicaram alguma restrição para a capacidade de comando da mulher nas três esferas de governo. No entanto, a maioria das entrevistadas, 59%, sustenta que as mulheres estão em condições de governar a cidade, o Estado e o Brasil. "Se nada impede a natureza feminina de governar, muito pelo contrário, chama a atenção o dado de que ainda exista um terço das mulheres que resista ao exercício político da mulher", avalia o sociólogo Gustavo Venturi, um dos coordenadores da pesquisa. "Isso mostra onde está um dos problemas (para a consolidação da participação feminina na política). E, certamente, esse dado entre os homens é maior." Maior descrédito vem de mulheres mais humildes Para 17%, as mulheres não estão preparadas para governar. Outras 11% afirmaram que prefeitas e governadoras estariam aptas a exercer suas funções apenas nos Estados e municípios e 8% acreditam que elas podem comandar só cidades. O maior descrédito se concentra nas faixas de menor escolaridade. "Por aí, é possível ver como se dá a introjeção da submissão. As entrevistadas não conseguem se imaginar no papel de comando", diz Venturi. No segmento pesquisado que não tem nenhuma formação, 34% acreditam que as mulheres não estão preparadas para governar. O mesmo porcentual indica exatamente o contrário. Entre as entrevistadas com curso superior, 87% não fazem nenhuma restrição à atividade política feminina. "Fator mulher" não definirá eleição De acordo com Venturi, os números demonstram que -apesar do surgimento da primeira candidatura feminina à Presidência com chances de vitória, a da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL) -o "fator mulher" não será determinante na eleição. "Como única candidata, ela vai ganhar votos apenas por ser mulher, mas também vai perder eleitores por isso", prevê. "De qualquer forma, todos concorrentes serão obrigados a trabalhar também com a agenda voltada para a mulher. E isso é saudável. Tende a levar a um avanço contra a discriminação." A pesquisa ouviu mulheres com mais de 15 anos sobre sua própria participação em movimentos organizados e na política, a influência desta em suas vidas e vice-versa, a preferência partidária, a tolerância com pessoas que defendem idéias diferentes da maioria e sobre o regime de governo. Gustavo Venturi destaca os dois últimos itens. Só 47% acham que a democracia é o melhor caminho A partir da comparação com levantamentos de 1989 e 1997, ele constatou, "na melhor das hipóteses", a estagnação dos indicadores de adesão à democracia e o recuo na participação política. "Esses elementos constituem uma base social importante de sustentação do regime democrático." Apenas 47% das entrevistadas acreditam que a democracia é sempre a melhor forma de governo. Em 97,51% tinham essa opinião. A pesquisa tem margem de erro de dois pontos porcentuais. Para um quarto das mulheres entrevistadas em outubro do ano passado, "tanto faz" se o regime é ditatorial ou democrático. Há cinco anos, esse total equivalia a 19%. Em 1989, numa democracia incipiente após o regime militar, 26% se mostravam indiferentes aos regimes. "Provavelmente a democracia não tem mostrado a que veio, no sentido de atender aos anseios da população. E esses números podem ser estendidos a homens", avalia Venturi. Os resultados indicam ainda pouco engajamento das mulheres: 56% acreditam que não influem na política. A tolerância a temas polêmicos e a quem os defende é pequena. No que diz respeito à idéia de que os homens no geral são superiores às mulheres, por exemplo, 54% das entrevistadas dizem discordar da questão, mas acreditam que quem a apóia não deve tentar convencer os outros. "O direito de defender a diferença é indicativo importante para a democracia", opina Venturi.

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