09 de setembro de 2015 | 21h45
Washington - O Brasil vive a combinação "explosiva" de uma crise fiscal e uma crise política, que tem como pano de fundo as investigações de corrupção conduzidas pelo Ministério Público e a Polícia Federal, afirmou nesta quarta-feira, 9, em Washington Marco Aurélio Garcia, assessor especial da presidente Dilma Rousseff para assuntos internacionais.
Em sua avaliação, fatores externos tiveram menor influência sobre as dificuldades do Brasil do que a registrada em países com economias mais abertas, como o Chile. A posição contrasta com o esforço de integrantes do governo Dilma de destacar o papel da desaceleração da China e turbulências em outras países sobre os problemas internos.
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"Reconheço que são importantes, mas talvez no Brasil sejam menos importantes, considerando que a economia não é tão dependente de fatores internacionais", observou, durante seminário promovido pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina.
Na opinião de Garcia, a grande questão perante o governo é a discussão dos limites do "modelo keynesiano" adotado nos últimos anos -no qual o Estado tem um papel relevante do desenvolvimento. O desafio, disse, é realizar esse debate sem anular conquistas sociais trazidas pelo aumento do emprego e da renda. Os dois pilares estão ameaçados pela crise na qual o Brasil está mergulhado.
Perguntado pela moderadora do painel sobre o que a América Latina precisaria fazer para não repetir os erros do Brasil, Garcia mencionou as investigações em curso no país. "A primeira coisa que devem aprender é ter instituições que combatam efetivamente a corrupção."
Ao mesmo tempo, ele afirmou que a corrupção no Brasil foi historicamente usada como um instrumento político para combater adversários e resistir a mudanças. "No Brasil, foi a corrupção que levou o presidente (Getúlio) Vargas ao suicídio em 1954. Em 1964, foi a corrupção que levou os militares a uma intervenção que durou 20 anos", observou. Em entrevista depois do evento, Garcia afirmou não temer que a crise atual tenha uma desfecho semelhante e termine com uma saída não institucional.
Segundo o assessor da presidente, as dificuldades atuais são em parte provocadas por um "déficit político", que reflete a incapacidade de "construção de uma narrativa" em defesa de uma nova geração de reformas. Entre elas, Garcia incluiu a melhoria da qualidade da educação, da saúde e do transporte.
"Quando não se constrói essa narrativa, é muito difícil, é muito pouco provável, que tenhamos possibilidade de avançar." Em sua opinião, a responsabilidade pelo "déficit político" não é apenas do governo, mas também das "forças políticas", entre as quais incluiu o PT.
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