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Brasil tem pressa, muita pressa para crescer, diz Alckmin

Ele quer conhecer in loco uma das regiões mais problemáticas do País, a cortada pela BR-163

Por Agencia Estado
Atualização:

A disposição demonstrada pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para vencer a disputa pela indicação da cabeça de chapa do PSDB nessas eleições presidenciais será uma das marcas que ele pretende imprimir na campanha que fará por todo o País. Depois que se desincompatibilizar do cargo, no final deste mês, para se dedicar com exclusividade à disputa pelo Palácio do Planalto, Alckmin pretende conhecer in loco uma das regiões mais problemáticas do País, a cortada pela BR-163, que liga Cuiabá, no Mato Grosso, ao porto de Santarém, no oeste do Pará. "Vou percorrer de carro a rodovia Cuiabá-Santarém, parando nos municípios e conhecendo de perto os problemas da região", informou ele, em entrevista concedida à Agência Estado. Na sua avaliação, o Brasil tem pressa, "muita pressa mesmo para voltar a crescer". E o governador acredita que para atingir essa meta, é preciso muito trabalho, vontade política para implantar as reformas necessárias e credibilidade para atrair o setor privado em áreas estratégicas, como a de infra-estrutura. "O Brasil é um mar de obras paradas", critica. É por essa razão que a escolha da BR-163 não foi à toa. A rodovia, inaugurada na década de 70, no regime militar, deveria se tornar um dos maiores corredores de exportação do País, mas a realidade é bem diferente. Cenário de miséria Apesar de abrigar grandes produtores de soja, pecuaristas e mineradoras, a maioria dos municípios cortados pelos 1.780 km dessa rodovia revela cenários de miséria, conflitos envolvendo madeireiros, garimpeiros, ambientalistas, extrativistas, grileiros e populações indígenas, trabalho escravo e execuções, como a ocorrida com a Irmã Dorothy Stang. O diagnóstico que Alckmin pretende fazer ao percorrer a rodovia Cuiabá-Santarém não vai se resumir apenas aos aspectos sociais. Ele acredita que é fundamental imprimir credibilidade aos projetos de desenvolvimento do País, a fim de atrair os investimentos privados, seja em forma de concessões ou através das Parcerias Público-Privadas (PPPs). "É o oposto do que disse o presidente Lula (seu principal adversário neste pleito), que o Brasil não tem pressa para crescer. E eu digo, o Brasil tem toda pressa (para crescer) porque se não fizer todas as reformas e os avanços necessários, vamos ser novamente o último da fila (em termos de crescimento), ganhando apenas do Haiti", afirmou. Vontade política Alckmin citou que uma das maneiras de ganhar a credibilidade do setor privado é colocar rapidamente em prática, caso seja eleito, as propostas que não dependam da legislação ou de mudanças constitucionais, mas sim de vontade política. Questionado sobre as dificuldades que antecessores (Lula e o ex-presidente FHC) enfrentaram nessa proposição, o pré-candidato do PSDB destacou: "Eu sou mais audacioso. Todo mundo sabe gastar dinheiro público, o governante tem de ser aquele que lidera o movimento de gastar melhor. É cortar gastos, pois quem apaga luz é quem paga a conta e tem de ter a vacina contra corrupção." E citou que o Estado de São Paulo já registra R$ 3,6 bilhões de economia só com as compras eletrônicas. Além disso, ele cita que não é prioridade sua vender ativos, privatizar. "Mas trazer a iniciativa privada pra ser parceira do governo na ampliação da infra-estrutura do País." Reforma do ICMS Em termos práticos, Alckmin disse à Agência Estado que no choque de gestão que pretende implantar, caso seja eleito para o Palácio do Planalto, uma das primeiras medidas será a reforma do ICMS. "É preciso simplificar o modelo, pois temos 27 leis e 55 alíquotas". Na sua avaliação, o governo do presidente Lula não fez reforma tributária, mas apenas perpetuou a CPMF e a DRU. "O governo (federal) resolveu o problema dele e quando mudou a Cofins, calibrou pra cima", reclamou, citando que por conta disso, a Sabesp vai investir em saneamento básico, este ano, R$ 650 milhões e vai pagar de tributos federais R$ 680 milhões. "É uma empresa de água que virou arrecadadora de tributos." Sem promessas mirabolantes O tucano afirma que não pretende fazer promessas mirabolantes de campanha e, apesar de não ter caminho fácil, acha possível mostrar aos eleitores que o Brasil pode caminhar. "A questão central é ter também a confiança da população, mostrando que é possível o Brasil melhorar muito, sob o ponto de vista ético, da eficiência e do crescimento. Não podemos nos conformar com os atuais patamares (de crescimento)." E como exemplo, cita o Estado de São Paulo. "Muito do que se discute hoje, o governo de São Paulo fez: austeridade, eficiência, recuperação da capacidade de investimento do Estado, redução de impostos, qualidade no gasto público e desenvolvimento. Em 2004 tivemos crescimento de 7,6 % do PIB." E ao listar os feitos do Estado que administra, ironiza: "E ainda dizem que sou conservador." Para o governador, na política alguns gostam de colocar rótulos nas pessoas. "E eu até levo com bom humor, eu me divirto", disse, complementando: "O presidente Lula e o PT são de esquerda. Mas tenho certeza que Margareth Thatcher (a Dama de Ferro, ex-primeira ministra britânica, conhecida pelo conservadorismo) teria constrangimento de assumir a política monetária deles (do governo do PT)." Questão fiscal Na sua avaliação, um dos grandes entraves ao crescimento brasileiro é a questão fiscal. E mais uma vez invoca a experiência do governo de São Paulo para dizer como atacar essa questão: "Uma tarefa hercúlea que aprendemos a fazer em São Paulo, ajuste do lado da despesa, melhorando a qualidade do gasto público." Para o governador, se isso for feito, é possível ter uma política monetária condizente com o desenvolvimento do País, com redução na taxa de juros e melhoria do câmbio. "Não é mágica, é trabalho." Além dessas questões, Alckmin assegura que também vai trabalhar "e muito" para diminuir a pobreza. "E o melhor caminho é através do emprego, renda, trabalho e educação." Pressa, pressa, pressa Caso seja eleito, o tucano diz que terá "pressa, pressa, pressa" para executar sua plataforma de governo. "Na primeira semana, todas as reformas devem estar na mesa, com qualidade das propostas para que possamos avançar, correr." E cita as reformas tributária e política (centrada na fidelidade partidária) dentro dessas prioridades. Além da pressa, ele afirma que uma das palavras-chave de seu vocabulário será "a eficiência", nas áreas tributária, de logística, de infra-estrutura, de recursos humanos e da educação, dentre outras. Apesar de sua campanha ao Palácio do Planalto estar ainda sendo delineada, até mesmo porque o PSDB ainda não firmou aliança formal com o PFL, Alckmin diz que um dos motes que tem em mente é este: "Quero ser o intérprete do povo para fazer uma mobilização nacional pela mudança." E diz que gosta mesmo é de estar entre o povo, nas ruas, para ver se está sintonizado com as pessoas. E cita um princípio de Mário Covas: "O governo depois que se elege faz um verdadeiro divórcio da população, quando se está mais perto da população, você erra menos." "Povo gosta de trabalhar, mas precisa de oportunidades" O pré-candidato do PSDB à Presidência disse que toda vez que volta de suas agendas na rua, está com o bolso cheio de muitos bilhetes. "De cada dez, nove são de pedidos de emprego. Por isso, sinto que o povo gosta de trabalhar, mas precisa de oportunidades." Com base nessa constatação, ele considera fundamental a retomada do crescimento da economia e os investimentos em educação, para permitir um acesso melhor da população ao mercado de trabalho. "Precisamos ter uma cesta de ações e de medidas, de reformas que vão criar o ambiente mais receptivo ao investimento privado, porque o governo não gera emprego." E defende: "Precisamos estimular o chão de fábrica, o turismo, o serviço, o comércio, o agronegócio. E as questões centrais são emprego, renda e educação."

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