Brasil expressa 'espanto' e ‘perplexidade’ por falas de ministro uruguaio sobre Bolsonaro

José Bayardi questionou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a eleição de Jair Bolsonaro e a permanência do País no Mercosul

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Por Redação
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MONTEVIDÉU - O governo brasileiro expressou "espanto", "rechaço" e "perplexidade" pelas falas do ministro da Defesa do Uruguai, José Bayardi, que questionou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a eleição de Jair Bolsonaro e a permanência do Brasil no Mercosul.

Ministro da Defesa do Uruguai, José Bayardi, questionou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a eleição de Jair Bolsonaro e a permanência do Brasil no Mercosul Foto: Miguel Rojo / AFP

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Em uma dura carta publicada na segunda 9 pelo jornal El Observador e enviada na sexta passada à Chancelaria uruguaia, conforme a embaixada brasileira no Uruguai confirmou, o embaixador do Brasil no Uruguai, Antonio Ferreira, disse que recebeu "com absoluta perplexidade" as declarações de Bayardi "por serem levianas e fora de contexto".

"Se fosse por mim, de repente o Brasil teria que ter sido tirado (do Mercosul) também (bem como a Venezuela), o que significou a última eleição (do presidente Jair Bolsonaro em 2018) e o afastamento da presidenta Dilma Rousseff" de seu cargo em 2016, afirmou Bayardi no programa local "Quem é quem", transmitido pela emissora pública.

O ministro uruguaio respondeu dessa forma a uma pergunta na qual o questionaram se ele considerava a Venezuela uma ditadura.

Dirigente de longa data do governante Frente Ampla (esquerda), ele assumiu neste ano a pasta da Defesa. Antes de dar sua resposta, ele tirou do bolso um exemplar em miniatura da Constituição venezuelana.

"Lá (na Venezuela) há um governo que está sustentado em uma Constituição que é a que os venezuelanos escolheram", ressaltou Bayardi, para quem o regime de Nicolás Maduro "não" é uma ditadura e o que ocorre é "um marco institucional de muita tensão".

Relações ainda mais prejudicadas

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A discussão provocada por Bayardi prejudica ainda mais uma relação pouco harmoniosa entre o Brasil de Bolsonaro e o Uruguai de Tabaré Vázquez. Antes da eleição do ex-militar à frente do governo brasileiro, vários integrantes do governo uruguaio, inclusive ministros, já haviam criticado o atual presidente.

O ministro uruguaio insistiu na comparação entre a permanência do Brasil no Mercosul e a saída da Venezuela do bloco. Caracas foi suspensa em 2017 pela aplicação de uma cláusula democrática aprovada em 1991 por Brasília, Buenos Aires, Assunção e Montevidéu, sócios fundadores da grupo.

"Acho que (a Venezuela) foi tirada (do Mercosul) em um determinado momento porque havia uma forte pressão (...), muito forte, pelos governos do Brasil e da Argentina que haviam mudado, para tirar (Caracas), e que o Uruguai resistiu a tudo o que pôde para que não acontecesse até acabar sem poder resistir. Foi errado", afirmou. 

"Se começarmos com os questionamentos sobre a institucionalidade venezuelana (...), posso dizer que, se aplicássemos o mesmo padrão para fazer essa leitura, o Brasil teria que ficar de fora, pelo que isso significou e ainda o que continua transcendendo do que foi a institucionalidade brasileira", observou.

Antonio Ferreira disse que os comentários "sobre a sociedade brasileira estão carregados de fortes preconceitos e demonstram total desconhecimento da realidade em que vivem 210 milhões de brasileiros, uma sociedade com grande vigor democrático". 

"Me causou espanto e rechaço a opinião expressa sobre o funcionamento do Mercosul, mecanismo que também demonstrou desconhecer", conclui a carta. / AFP

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