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Brasil exporta lutadores de boxe tailandês para país berço do esporte

Após sucesso de brasileiro na Tailândia, país do futebol vira fábrica de talentos em arte marcial.

Por Marina Wentzel
Atualização:

Lutadores brasileiros estão chegando a Bangcoc para competir profissionalmente no boxe tailandês, o Muay Thai, esporte até há pouco dominado pelos locais. A onda migratória de talentos já produziu campeões mundiais e começa a movimentar dinheiro além dos ringues. Um dos pioneiros, o paulista bicampeão mundial pela série Z1 Leo Amendoim, está há mais de cinco anos na Ásia e conta que o perfil dos lutadores brasileiros está em demanda, principalmente nas categorias mais pesadas. "Os tailandeses são pequenos e rápidos, mas falta gente ágil e grande pra lutar acima de 65 quilos. Nessa categoria há mais estrangeiros", explica. Não há números definitivos para a quantidade de lutadores existente no país, mas o ranking da WBC, World Boxing Council, uma das agremiações mais importantes, lista cerca de 370 deles em 19 categorias. E, segundo uma média das estimativas dadas pelos próprios lutadores, atualmente existem 12 brasileiros vivendo do Muay Thai no país. "Mas é difícil dizer com certeza, pois o pessoal às vezes vem só para treino ou pra fazer só uma luta", explica Amendoim, que montou, junto com a parceira Maxemira de Castro, um site para agenciar brasileiros que querem vir à Tailândia. "Como eu estou aqui desde 2007, já falo tailandês, já conheço os promotores dos estádios e tenho bons contatos nas academias, assim consigo ajudar o pessoal a vir", explica ele. Apadrinhamento O sistema do Muay Thai funciona por meio de apadrinhamento. Normalmente o lutador recém-chegado se filia a uma academia, cujo dono passa a ser o treinador, gerente e mentor da carreira do atleta. O lutador deve fidelidade a esse "padrinho", que lucra de 30% a 50% dos honorários por combate. Essa porcentagem varia dependendo de o quanto o atleta utiliza o alojamento, a alimentação e as facilidades da academia do mentor. "É raro o cara lutar sozinho. Ninguém começa sem apoio", afirmou o paraense Jos Rodrigues Mendonça, competidor na categoria 65 quilos, que treina na Ingram Gym do japonês Hideki Suzuki. "Já tive um treinador que não me deu a devida atenção, só promessas não cumpridas. Aí vim para Bangcoc e em dez dias estava lutando", resumiu o paulistano Adaylton Dall, campeão na faixa dos 67 quilos. Esporte O esporte é disputado por dois oponentes que se atacam com chutes, socos, joelhadas e cotoveladas. Estima-se que essa arte marcial tenha nascido de técnicas de ataque usadas pelos soldados do reino do Sião, atual Tailândia, em batalhas do século 14. Uma das principais atrações turísticas do país, as competições de Muay Thai movimentam centenas de milhões de baths (moeda local) tailandeses. A maior parte desse dinheiro circula informalmente no sistema de apostas, que é gerenciado pelas máfias de cada ginásio. "Os ginásios são protegidos pelo Exército e pela polícia, que estão de acordo com tudo, então não há briga de facção pra ver quem administra, pois já está tudo certo", explicou à BBC Brasil um frequentador que preferiu permanecer anônimo. Pela lei da Tailândia, os jogos de azar são proibidos, mas fazer apostas é amplamente tolerado. Os acordos são fechados somente na palavra entre amigos ou com algum dos muitos "agenciadores" - uma espécie de bicheiro - que ficam à disposição na arquibancada do ginásio. O prêmio pago por vitória é reavaliado a cada round. "Os apostadores ficam gritando, o estádio vem abaixo. Às vezes chega a virar a moral do lutador saber se estão apostando na nossa vitória ou não", disse à BBC Brasil o paraense Rodrigues Mendonça, que é campeão mundial da WPMF, World Professional Muay Thai Federation. Agenciamento O cronograma das lutas é estabelecido pelos promotores dos estádios. Somente em Bangcoc há cinco arenas de Muay Thai. As mais famosas são Lumpinee e o Ratchadamnoen. Os promotores são o ponto central da organização do esporte. Eles faturam com o agendamento dos embates, com os patrocinadores, com a venda de direitos à TV e com os ingressos da plateia. São eles que contatam as academias ou os intermediários em busca de lutadores. Para agenciar uma luta de brasileiros, por exemplo, o paulista Leo Amendoim é acionado pelos promotores e busca primeiro a aprovação dos "padrinhos" antes de fechar acordo com os lutadores. A intermediação custa cerca de 10% dos honorários do lutador. A remuneração dos atletas varia entre 20 mil e 40 mil baths (R$ 1200 a R$ 2500 aproximadamente) por luta, dependendo da experiência. "Para o sujeito sobreviver precisa emplacar uma luta por mês", disse à BBC Brasil o lutador Leo Gaúcho, que em um ano e sete meses de Tailândia já participou de 17 combates. "Aqui as chances de se ganhar dinheiro só lutando são boas em comparação ao Brasil, pois as oportunidades de luta são muito mais frequentes", conclui Adaylton Dall. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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