Brasil e Turquia devem reagir à 'imobilidade' de países ricos, diz Dilma

Presidente defendeu articulação entre os dois emergentes antes da cúpula do G20 contra 'remédios privilegiados'.

Por Daniel Gallas
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A presidente Dilma Rousseff disse nesta sexta-feira em Ancara que o Brasil e a Turquia devem se articular no G20 - grupo das 20 maiores economias do mundo - para lutar contra a "imobilidade política" dos líderes dos países ricos. Em discurso a empresários brasileiros e turcos, que participam de um fórum de negócios na capital da Turquia, Dilma falou que as duas nações estão sofrendo com as políticas monetárias expansivas do mundo desenvolvido - em aparente referência a políticas de injeção de dinheiro na economia ou desvalorizações artificiais do câmbio, cujo efeito colateral é fazer o real subir e prejudicam a competitividade brasileira no exterior. Na mesa, ao lado de Dilma, estava o ministro da Economia da Turquia, Mehmet Simsek. "Como países emergentes, somos afetados pelas políticas de reação dos países desenvolvidos à crise, notadamente a expansão monetária, praticada por alguns bancos centrais, que levam a uma espécie de guerra cambial. Isso compromete os valores das nossas mercadorias", afirmou a presidente. "Essas políticas monetárias excessivamente expansionistas têm sido remédio privilegiado que as economias mais desenvolvidas têm buscado nos últimos tempos e têm como efeito secundário a valorização artificial das nossas moedas." Dilma defendeu que Brasil e Turquia devem se articular na cúpula do G20, em novembro em Cannes, na França, onde serão discutidas políticas articuladas para combater o desaquecimento da economia global. Muitos economistas temem que o mundo possa estar perto de entrar em uma nova recessão, sem ter ainda se recuperado da crise financeira de 2008. "O Brasil e a Turquia podem contribuir no G20, por exemplo, para o prosseguimento das reformas nas instituições econômicas e financeiras internacionais, aumentando a participação de nossos países nas decisões que afetam diretamente os nossos povos", disse a presidente. "Na cúpula de Cannes, Brasil e Turquia devem juntos pressionar por resultados concretos que superem muitas vezes a imobilidade política das lideranças envolvidas", disse Dilma. Relações comerciais O fórum onde Dilma discursou foi realizado para promover as relações comerciais bilaterais. Na última década, o comércio entre os dois países triplicou, com um salto de 60% só de 2009 para 2010. A expectativa das autoridades é que o comércio bilateral supere a marca de US$ 2 bilhões neste ano. A presidente destacou que a rota aérea entre Istambul e São Paulo, operada pela Turkish Airlines, tem ocupação média de 90%. O ministro da Economia turco anunciou uma missão de empresários da construção civil ao Brasil em novembro. A presidente convidou os empresários turcos do setor a participarem das obras de infraestrutura da Copa do Mundo de 2014. Empresários brasileiros do setor de construção civil, presentes no fórum, disseram à BBC Brasil que, apesar de Ancara investir pesadamente em obras públicas de infraestrutura, há mais oportunidades para construtoras turcas no Brasil do que o contrário, já que o mercado é bastante competitivo na Turquia. A presidente Dilma encontrou-se nesta sexta-feira com o presidente turco Abdullah Gul. O café da manhã que Dilma teria com o premiê Recep Tayyip Erdogan no sábado, em Istambul, foi cancelado, por causa da morte da mãe do primeiro-ministro. Dilma expressou suas condolências a Erdogan, mas cometeu uma pequena gafe em seu discurso, chamando o premiê de "presidente", e tropeçando na pronúncia do seu nome. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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