Brasil e França anunciam negociação de 36 caças de combate

Aeronaves GIE Rafale podem integrar Força Aérea; Paris, por sua vez, pretende adquirir 12 aviões brasileiros

Por Denise Chrispim Marin
Atualização:

A declaração final do encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy, da França, nesta segunda-feira, 7, no Palácio da Alvorada, antecipa a provável decisão do governo brasileiro de adquirir 36 caças de combate Rafale, da empresa francesa Dassault, um negócio de R$ 12,6 bilhões.

 

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"Levando em conta a amplitude das transferências de tecnologia propostas e das garantias oferecidas pela parte francesa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a decisão da parte brasileira de entrar em negociações com o GIE Rafale para a aquisição de 36 aviões de combate", diz comunicado divulgado após encontro dos dois presidentes.

 

Embora não anuncie a compra dos jatos, o documento confirma o que Lula já havia declarado à imprensa francesa, em entrevista veiculada no domingo, 6. O Brasíl ficará mesmo com os jatos Rafale, que concorriam com os aviões Gripen NG, da sueca Saab, e F-18 Super Hornet, da norte-americana Boeing, na licitação FX-2, que tem por objetivo atualizar tecnologicamente a Força Aérea Brasileira.

 

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A negociação confirma a parceria estratégica entre Brasil e França, que deve ir além do acordo de compra de equipamentos militares. Nessa aliança, o Brasil de Lula vê a França como o amigo rico e preferido do Norte, disposto a chancelar a presença do País nos órgãos de governança global.

 

No documento, Lula e Sarkozy expressam a decisão de fazer do Brasil e da França parceiros estratégicos no campo aeronáutico.

 

O texto assinala a intenção do governo francês de comprar 10 aviões de transporte militar KC-390, cujo projeto está sendo desenvolvido pela Embraer e tem produção prevista para começar em 2015.

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Nicolas Sarkozy também manifestou a disposição das indústrias de seu país de contribuir para o desenvolvimento do programa dessa aeronave. Os presidentes brasileiro e francês se reuniram no Palácio da Alvorada para tratar de temas de interesse dos dois países.

 

Transferência de tecnologia

 

Em entrevista a veiculos franceses no domingo, Lula já antecipara o motivo que teria levado à escolha do Rafale: a inclinação, por parte da França, para transferir tecnologia ao Brasil.

 

"Para nós, a compra dos caças tem um componente essencial, que é a transferência de tecnologia e a possibilidade de fabricar uma parte desses aviões no Brasil. Quem estiver com essa disposição estará mais próxima de fechar o contrato com o Brasil.

 

O Rafale, projeto iniciado em 1988, está em operação na força aérea francesa desde 2006. No entanto, até agora não encontrou compradores estrangeiros, uma grande frustração para Sarkozy.

 

O líder francês está conversando com os Emirados Árabes Unidos sobre a possível venda de 60 aviões.

 

Outros negócios

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A declaração final do encontro chama ainda a atenção para a finalização dos contratos para a compra, pelo Brasil, de helicópteros franceses de transporte EC 725, quatro submarinos convencionais, além da parceria para a construção de um submarino a propulsão nuclear.

 

Pelos contratos da Marinha, o Ministério da Defesa pagará € 6,7 bilhões (ou aproximadamente R$ 20 bilhões), até 2024. As operações estão associadas à construção de um novo estaleiro e uma base operacional.

 

Com o plano, até 2020 o Brasil terá a maior e mais poderosa força naval da América Latina, equipada com submarinos, fragatas, navios leves, corvetas - um volume estimado em 35 unidades - além de mísseis de longo alcance, torpedos, aviões e helicópteros de tecnologia avançada. A expectativa é de que em dez anos o primeiro submarino de propulsão nuclear, com 100 metros e 6 mil toneladas, já esteja pronto, e também definido o cronograma de uma segunda unidade.

 

Também na área de defesa, a declaração registra a decisão das empresas Agrale e Renault Trucs Défense de se associarem na produção e comercialização de veículos de transporte militar.

 

Parceiro estratégico

 

A França virou aliada preferencial do Brasil no mundo desenvolvido. Se Lula, por um lado, ambiciona colocar em prática uma política industrial de defesa, além de alavancar a presença do Brasil nos órgãos de governança global, Sarkozy, por sua vez, explora oportunidades de negócios na América Latina.

 

Há convergência de posições em questões econômicas e estratégicas, além das militares. A França foi uma das primeiras vozes do Primeiro Mundo a apoiar uma reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o que pode permitir o ingresso do Brasil entre seus membros permanentes - ambição cultivada especialmente pelo governo Lula. Nos últimos anos, passou a defender a ampliação do G-8, as sete economias mais industrializadas e a Rússia, para a formação de um G-14 que incluiria, além do Brasil, a África do Sul, a China, a Índia, o México e o Egito

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Com a eclosão da crise econômica mundial, os dois países viram no G-20, o grupo das maiores economias do mundo, um foro mais representativo para a discussão de uma nova ordem financeira global. Lula e Sarkozy deverão fechar uma posição conjunta para a cúpula do G-20 em Pittsburgh (EUA), nos próximos dias 24 e 25. Em especial, para impedir que sejam afrouxados os compromissos do G-20 de reforma no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial (Bird).

 

Um dia depois do retorno de Sarkozy à França, sua ministra de Economia, Christine Lagarde, comandará uma missão empresarial francesa em São Paulo e um encontro com o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge. O foco estará no aumento do comércio bilateral, que somou US$ 8,8 bilhões em 2008, e na elevação de investimentos franceses no Brasil, que acumulam US$ 17,5 bilhões.

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