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Brasil busca reequipar militares para enfrentar desafios

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Por EDUARDO SIMÕES
Atualização:

Diante de novos desafios, como a proteção dos recém-descobertos megacampos de petróleo, e também de antigas questões não resolvidas, como a vigilância da fronteira amazônica, o Brasil tem buscado acordos internacionais para reaparelhar suas Forças Armadas. O país, porém, não quer apenas comprar equipamentos modernos, mas deter a tecnologia para construí-los. Entre os principais sonhos de consumo estão aeronaves e um submarino a propulsão nuclear, que levaram ministros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à França e à Rússia nas últimas semanas. "Deixamos claro tanto para os franceses quanto para os russos que não estamos interessados em comprar produtos e serviços prontos da prateleira. Dissemos que estamos interessados em parcerias que contemplem a produção conjunta", disse em entrevista à Reuters o ministro de Planejamento de Longo Prazo, Roberto Mangabeira Unger, que visitou esses países ao lado do ministro da Defesa, Nelson Jobim. O professor Roberto Aguiar, da Universidade de Brasília (UnB), concorda com a posição do governo. "Não interessa só a gente saber pilotar, a gente saber navegar. O que interessa é a gente saber fazer, produzir e ter uma tecnologia brasileira para isso", disse Aguiar à Reuters. Além do envio de ministros, Lula também tratou pessoalmente do reaparelhamento das Forças Armadas quando se reuniu com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, na Guiana Francesa, no mês passado, para assinar um acordo de cooperação na área militar. Um dos objetivos do governo Lula para ajudar a fazer frente a esses desafios é a produção do submarino com propulsão nuclear em parceria com a França. Em entrevista recentemente divulgada no site do Ministério da Defesa, o general José Benedito de Barros Moreira, que assumiu em fevereiro o cargo de conselheiro militar da missão brasileira na Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, apontou o projeto do submarino como uma das duas principais prioridades das Forças Armadas brasileiras ao lado da conclusão do Veículo Lançador de Satélites (VLS). "Acho importante os dois projetos propostos pelo general Moreira, mas não prioritários", disse o cientista político da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Jorge Zaverucha. "O submarino a propulsão nuclear, por exemplo, para ter eficácia na proteção das recém-descobertas petrolíferas precisaria de apoio de um plano mais amplo de defesa. Ele sozinho é insuficiente", acrescentou. Por outro lado, o pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Eliézer Oliveira elogiou a intenção brasileira de seguir adiante com o projeto. "O submarino (nuclear) é um projeto de quase 30 anos. Ele tem resultados importantes do ponto de vista tecnológico... ele não tem que competir em prioridade com ninguém, ele tem que ser concluído. Não se pode jogar dinheiro fora," opina. Mas um analista da empresa norte-americana de análises de risco Stratfor questionou o projeto por considerar que os programas brasileiros sofrem de "falta de objetivos estratégicos". FRONTEIRAS O professor Aguiar, da UnB, chama a atenção para um antigo problema que o Brasil ainda precisa enfrentar. "Nossas fronteiras estão absolutamente sem proteção", disse ele. "Contrabando de armas, contrabando de munições e de drogas passam tranquilamente pelas fronteiras do Brasil", acrescentou. Já para o professor Domício Proença, coordenador do Grupo de Estudos Estratégicos (GEE) da Coope/UFRJ, a estratégia nacional de defesa do Brasil não pode se limitar à proteção das fronteiras. "Não basta só vigiar fronteira", afirmou. "Tem que ser capaz de vigiar fronteira, tem que ser capaz de mover tropas, tem que ser capaz de mobilizar, tem que ser capaz de controlar o espaço aéreo, tem que ser capaz de mover suprimentos no caso de emergência", exemplificou. Para isso, é necessária a atualização dos equipamentos usados pelas Forças Armadas que, de acordo com especialistas ouvidos pela Reuters, estão obsoletos. Mas Aguiar acredita que somente a compra de armamentos e equipamentos de transporte não basta. "Eu acho muito mais interessante um grande investimento em equipamentos de inteligência", disse. "Não basta ter canhão. (O importante) é como trabalhar com inteligência num mundo cuja grande característica é a velocidade." Ao mesmo tempo em que se movimenta para reaparelhar suas Forças Armadas, o governo brasileiro busca tranquilizar eventuais preocupações de países vizinhos. "Não há país de dimensão comparável ao nosso que tenha sido instintivamente pacífico", disse o ministro Mangabeira Unger. "Mas isso tudo não nos exime da necessidade de ter um escudo de defesa." (Reportagem adicional de Todd Benson)

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