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BR Distribuidora foi ‘retribuição’ a Cerveró, diz delator

Baiano atribui a Bumlai a informação de que ex-diretor da Petrobrás foi realocado na subsidiária por ter ajudado a Schahin a obter contrato

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Foto do author Fausto Macedo
Por Julia Affonso , Mateus Coutinho , Ricardo Brandt e Fausto Macedo
Atualização:
José Carlos Bumlai prestou depoimento ontem na CPI do BNDES, na Câmara dos Deputados, em Brasília Foto: Dida Sampaio|Estadão

O lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, disse, em acordo de delação premiada com a força-tarefa da Operação Lava Jato, ter ouvido do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró foi indicado para a diretoria financeira da BR Distribuidora por ter ajudado o Grupo Schahin a obter contrato de operação do navio-sonda Vitória 10.000. Auditoria da estatal constatou irregularidade nesse negócio.

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Baiano diz que procurou Bumlai – preso na semana passada pela Polícia Federal –, entre fim de 2007 e início de 2008, com pedido de ajuda para manter Cerveró na Diretoria Internacional da Petrobrás, cargo que ele ocupava desde 2003. A articulação fracassou, mas, na mesma época, ele disse ter recebido um telefonema do pecuarista no qual Bumlai afirmou estar no Palácio da Alvorada, onde teria conversado com o então presidente Lula sobre o assunto. Na conversa, Bumlai lhe informou da indicação de Cerveró para a BR Distribuidora.

“José Carlos Bumlai telefonou para o depoente e disse-lhe que estava em Brasília, ressaltando que tinha conversado com Lula e que não tinha mais como manter Nestor Cerveró na Diretoria Internacional”, relatam os investigadores da Lava Jato a partir do depoimento de Baiano. “Na mesma ocasião, Bumlai informou que, em razão da ajuda de Cerveró na contratação do Grupo Schahin para operação do navio-sonda Vitória 10.000, ele havia sido indicado para o cargo de diretor financeiro da BR Distribuidora” – cargo que ele ocupou de 2008 a 2014.

Cerveró negociou a contratação da Schahin para operar o navio-sonda Vitória 10.000, quando era diretor de Internacional da Petrobrás, por US$ 1,5 bilhão. Auditoria interna da estatal, concluída em maio, confirmou que houve direcionamento indevido na contratação da empresa. O negócio seria uma compensação por empréstimo de R$ 12 milhões do Banco Schahin a Bumlai que teria como destino final o PT. Segundo Baiano, ele e Bumlai acertaram pagamento de US$ 5 milhões em propina a Cerveró e a dois ex-gerentes da estatal, pagos pela Schahin.

Contradição. Baiano também relata a articulação política feita por Bumlai para tentar manter Cerveró na Diretoria Internacional. O pecuarista teria intermediado até uma conversa em 2007 entre o então diretor da Petrobrás e o vice-presidente da República Michel Temer (PMDB), na época deputado.

Ao Estado Temer confirmou, via assessoria, o encontro com Cerveró em São Paulo e disse que a reunião foi intermediada por Bumlai. Temer relata que o ex-diretor estava buscando apoio para permanecer na estatal e diz ter afirmado a ele que “não poderia fazer nada”.

De acordo com Temer, já havia uma indicação do então presidente do PMDB de Minas, Fernando Diniz, morto em 2009, para nomear o engenheiro Jorge Zelada para o cargo, o que acabou ocorrendo. Zelada também foi preso pela Lava Jato.

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A informação de Temer contradiz o depoimento do pecuarista à força-tarefa. Ele disse à PF na segunda-feira, 30, que não se empenhou para manter Cerveró no cargo.

A articulação para manter Cerveró no cargo, relata Baiano, começou quando ele soube de “pressões muito fortes” para sua demissão. O lobista afirmou que o pecuarista lhe disse ter conversado com Lula, mas não poderia interferir no assunto pois a Diretoria Internacional tinha sido prometida à bancada mineira do PMDB na Câmara. Procurado pela reportagem, o Instituto Lula afirmou que não iria comentar o assunto.